Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 7: VII Pág. 84 / 519

Estavam as coisas nestes termos, quando um facto imprevisto as modificou.

Foi o aparecimento de Jorge.

A cena passara-se em uma sala contígua à do cartório da casa, onde desde pela manhã Jorge se encerrara a examinar uns papéis de importância. O padre supunha-o fora, e por isso promovera aquela reunião, prestes a tornar-se tumultuosa. Assim pôde Jorge ouvir tudo.

Percebeu a necessidade de fazer cessar aquela cena escandalosa e terminá-la airosamente, embora à custa de algum sacrifício. Nesta resolução levantou-se e abriu de par em par a porta pela qual comunicavam as duas salas.

Assim que o viram, os criados emudeceram. O padre julgou-se perdido.

Jorge dirigiu-se placidamente àqueles.

- Quando o Sr. frei Januário lhes disse que me procurassem para serem pagos do que se lhes deve, era melhor que o fizessem logo, e não levantassem esse clamor próprio de uma feira. Entrem, que eu aqui estou pronto para lhes fazer contas.

E a um gesto imperioso de Jorge, os criados entraram tímidos no gabinete, ocultando-se uns com os outros.

- Entre também, frei Januário - disse Jorge ao padre, que procurava retirar-se sorrateiramente da sala.

O padre teve de obedecer, a seu pesar.

Jorge sentou-se à mesa e principiou a interrogar os criados, um por um, sobre a quantia que se lhes devia, e pagando-lha integralmente, depois de obtida a informação.

Assim os correu e satisfez a todos, à excepção do hortelão, que o estava a observar calado e com os olhos húmidos.

Jorge voltou-se para ele e disse-lhe:

- Estou que te fazia ofensa se te pagasse ao mesmo tempo que a estes desconfiados. Tu és dos que esperam com esta garantia.

E estendeu-lhe a mão francamente aberta.

O hortelão quase se precipitou para ela e apertou-a comovido nas suas.





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