Enquanto os heróis se engalfinhavam na feroz disputa, os cavalos imortais de Aquiles, afastados do local de combate, choravam a perda de seu excelente guia, a quem muito estimavam. Lembravam-se de que muitas vezes Pátroclo os havia conduzido à vitória, guiando-os com mãos firmes e seguras. E agora, ao vê-lo morto, os pobres animais deixavam pender a cabeça em sinal de luto e pesar, não dando importância às chicotadas de Automedonte que queria que eles se movimentassem.
Aquela tristeza, porém, não passou despercebida a Júpiter, que se compadeceu deles dizendo:
— Fiz muito mal em vos ter dado — a vós, que sois imortais — a um homem que, apesar de rei, é mortal como todos os homens. Pois, de todas as coisas que respiram sobre a terra, não há nada mais digno de lástima do que o homem. Mas Heitor não vos possuirá. Já basta que ele se tenha apoderado das armas de Aquiles.
E, assim falando, insuflou-lhes novo ânimo e os animais desataram a correr, conduzidos por Automedonte a cuja voz obedeceram como dantes. E Heitor não conseguiu apanhá-los, embora tivesse grande desejo de o fazer.
Entretanto, a luta recrudescera e os troianos exerciam cada vez mais pressão sobre os gregos. Menelau e Ájax, à frente, procuravam deter o avanço do adversário. A um dado momento, disse o segundo ao primeiro:
— Vê se consegues encontrar Antíloco, filho de Nestor, e pede-lhe que vá sem demora anunciar a Aquiles que o mais querido dos seus amigos pereceu em combate.
Menelau aquiesceu mas, antes de se retirar, disse aos dois Ájax e a Meríones:
— Meus amigos, não vos esqueçais de que, em vida, Pátroclo foi sempre um bom e fiel companheiro. Não o abandoneis, portanto, agora que o destino lhe foi tão cruel.