— Ele não tarda a chegar — dizia ela. — Quando volta do combate, vem tão sujo de lama e de sangue e tão necessitado de banho!
Infeliz Andrómaca! Mal sabia que Heitor não mais voltaria ao lar e que naquele momento era arrastado no pó, atado ao carro de Aquiles!
De repente, começou a ouvir os gritos e os gemidos que vinham da torre. Um pressentimento funesto atravessou-lhe a mente. Dirigindo-se às criadas, perguntou-lhes:
— Ouvistes esses gritos? Ouço lamentos da minha sogra. Terá acontecido alguma coisa aos filhos de Príamo? Talvez a Heitor, que está sempre a expor-se nos combates, sempre à frente dos companheiros. Receio que se tenha adiantado demais e Aquiles lhe tenha barrado a entrada, perseguindo-o na planície. Tenho de saber já o que aconteceu! Venham d ú duas de vós e acompanhem-me até à torre.
Dizendo isto, atravessou o aposento, louca de aflição, as pernas a tremer e o coração aos saltos.
Ao chegar à torre, Andrómaca lançou um olhar angustiado pela planície, procurando o esposo nos grupos de guerreiros. Mas o que viu foi aquele doloroso espectáculo: o corpo de Heitor a agitar-se como fardo inútil, amarrado ao carro do vitorioso Aquiles.
Nada mais pôde ver. Toldaram-se-lhe os olhos, sentiu a terra faltar-lhe por baixo dos pés e caiu para trás sem sentidos. Em volta dela agruparam-se as irmãs de Heitor, tentando ampará-la. Mas dentro de alguns minutos voltava a si para sentir mais vivamente a dor:
— Heitor, Heitor! Para que me deixaste sozinha, neste desespero horrível! Que será de mim e de nosso filhinho, tão pequeno ainda? Sem tua protecção, só nos restam a negra miséria e o cativeiro, porque não tardará o dia em que Tróia será destruída. Tu, que eras a salvação da cidade, estás sem vida, ultrajado por aquele homem cruel! E vais arrastado e nu, quando há aqui tantos mantos finos e macios, tecidos por cuidadosas mãos femininas... Uma vez que não os poderás usar, farei com eles uma fogueira, que será a única homenagem que te poderei prestar!