Terminado o festim, o prudente Nestor levantou-se:
— Valentes átridas—diz ele—e demais chefes do exército. Elevado numero de guerreiros nossos pereceu hoje em combate, avermelhando com o seu sangue a planície verdejante, regada pelo rio Xanto. Ordena, pois, ó rei, que amanhã, aos primeiros raios de sol, suspendamos os combates para recolher e incinerar os corpos dos que morreram gloriosamente. Guardemos os seus restos em túmulo comum e nas proximidades desse túmulo apressemo-nos em construir uma longa muralha com altas torres que, servindo de protecção aos navios, nos possa também defender a nós mesmos. Coloquemos nela sólidas portas, que dêem livre passagem aos nossos carros, e cavemos fora da muralha um profundo fosso que a acompanhe em toda a sua extensão e que possa deter os cavalos e os guerreiros inimigos, se por acaso vierem eles a tentar aproximar-se dos nossos navios.
Enquanto eram aceites com aplauso as sugestões de Nestor, um pouco longe dali, na cidadela de Tróia, realizava-se uma turbulenta assembleia convocada pelo temor, em face dos acontecimentos do dia. Levantando-se, assim falou Antenor, com gravidade e prudência:
— Troianos e demais aliados, atendei ao que vos digo. Restituamos sem demora aos átridas Helena e suas riquezas, pois quebramos um juramento sagrado e funesto futuro nos aguarda se persistirmos nesta guerra.
Páris, esposo da bela Helena, não se conteve e protestou:
— Antenor, feriu-me vivamente a tua proposta que, se foi apresentada seriamente, só pode ter partido de quem, por obra dos deuses, não se acha em seu juízo perfeito. Quero declarar, com firmeza, que jamais consentirei em separar-me de Helena. Concordarei apenas em restituir as riquezas que com ela vieram, às quais acrescentarei parte do que possuo!