Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 9: IX Pág. 112 / 519

Sabendo-se observada, não ousa apagar a luz, por querer mostrar que também prolonga as suas rêveries por noite alta.

- Ora! deixa-me com as tuas observações!

- Queres verificar? Apaguemos a luz e veremos o resultado.

Maurício condescendeu.

A única janela alumiada da Casa Mourisca envolveu-se nas trevas da noite.

Como o leitor já sabe, Berta, por um motivo diferente do insinuado por Jorge, apagou também pouco depois a luz do seu quarto.

- Eu que dizia? - exclamou Jorge, rindo triunfantemente, mas como se aquele rir lhe fizesse mal.

- Pois bem; se adivinhaste, tanto melhor - disse Maurício, despeitado?!

- Tanto melhor?!

- Sim. Por que não hei-de eu ver, neste propósito de acompanhar a nossa vigília, uma prova de simpatia pelo companheiro de infância que hoje tornou a ver?

- Ah! ah! Pensas nisso?

- Porque não? Olha, Jorge, a mulher sem as fraquezas do coração próprias do sexo não é uma mulher perfeita. Eu, se visse anjos cá por este mundo, anjos puros, correctos, impecáveis, tirava-lhes reverente o chapéu, benzia-me diante deles, rezava-lhes uma oração, mas afianço-te que não os amava.

- Boa noite, Maurício. Olha que são duas horas.

- Adeus, Jorge.

- Não sonhes com Berta.

- Não sonhes tu com a aritmética, que é pior pesadelo.

E os dois irmãos separaram-se, rindo.

A ambos dominou por muito tempo a imagem de Berta.

Jorge passou uma noite febril. Tentava desfavorecer Berta, quanto podia, no próprio conceito, esforçando-se por convencer-se de tudo quanto a respeito dela dissera ao irmão, para diminuir assim a impressão que, a seu pesar, conservava ainda da imagem da rapariga.

Maurício dera-lhe a entender que Berta fora sensível ao seu galanteio, e esta ideia torturava o espírito de Jorge.





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