Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 10: X Pág. 115 / 519

Entregue toda a esta tarefa, sentia-se tão do íntimo contente, que se pôs a cantar a meia voz a música de uma cantiga em voga no sítio.

Pareceu-lhe por mais de uma vez ouvir rumor nas balseiras vizinhas, mas julgou-o produzido por algum pássaro agitando-se no ninho oculto nos silvados, e não lhe deu maior atenção.

De uma vez, porém, em que os irmãos corriam para ela com uma regaçada de flores, viu-os de repente pararem enleados e olharem para a sebe que a separava da rua próxima. Berta voltou-se na direcção daquele olhar, e descobriu Maurício, que, por uma entreaberta das silvas, a estava observando.

A filha de Tomé da Póvoa levantou-se sobressaltada; e sem poder ocultar de todo a confusão que experimentava com o inesperado encontro, interrogou sorrindo:

- Estava aí há muito?

- Há alguns momentos, ao que me parece.

- A fazer o quê?

- A vê-la e a ouvi-la.

- Com tão pouco se entretém!

- Então pareceu-lhe que não será novo para mim o espectáculo?

- Novo?! Um campo, uma fonte e umas crianças? Ora essa!

- Enumerou os acessórios, e esqueceu-lhe a figura principal, e nessa é que está a novidade. Se a Berta soubesse que género de figuras femininas que por aí se me deparam, nessas bonitas paisagens deste nosso belo país!

- É muito injusto com as suas patrícias.

- Oh! não as lisonjeie.

- Nisso interesso eu também, bem vê.

- Poupe-lhes a humilhação de comparar-se com elas, Berta. Creia que, indo educar-se a Lisboa, foi para onde a chamavam os instintos da sua natureza superior. Seu pai, julgando tomar uma resolução espontânea, ao mandá-la para a capital, obedeceu, sem o saber, a uma força oculta que assim o exigia. O seu espírito estava voando para as cidades, onde somente encontrava ambiente apropriado.





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