E, sobretudo, depois disto da regedoria. Ele fala com o Sr. administrador e até com o governador civil, quando vai ao Porto, e a cada passo está a escrever-lhes e a receber cartas deles, e é tudo: Deus guarde a V. S.a para aqui, Deus guarde V. Ex.ª para acolá. Ora a filha do Tomé vem acostumada a estas coisas lá da cidade e enfim, sendo de costume, já se não gosta de passar sem isso.
Maurício não podia seguir placidamente as conjecturas da ama; parecia-lhe uma profanação o que ouvia.
- Não, não, Ana. Clemente não é marido que convenha a Berta. De modo nenhum. Desengana-te.
- E por que não? Ora essa é boa! Quem é então que lhe convém? Olh'agora!
- Berta tem... teve... há-de ter...
- Tem, teve e há-de ter o quê?...
- Uma educação... gostos...
- Ora viva! Já fazes a filha do Tomé fidalga demais para o meu rapaz! Ora quem ali está! Olha que eu sou da criação do Tomé e conheci-o rapazinho de pé descalço a guardar o gado... Olh'agora!
- Não duvido, Ana, mas... Berta já viu a cidade e...
- Toma! E o meu Clemente? Ora deixa-te de histórias. Sabes que mais?... Não me andes tu já por aí com o olho na pequena, que é o que me parece; olha que não é nenhuma tola como as outras.
- Ó Ana, que ela não é como as outras sei eu. Nunca esta terra soube o que era um anjo assim.
- Olhem, olhem! É o que eu digo! Temo-la travada! Eu logo vi. Ó filho, que não sei a quem me sais. Eu logo vi. Tu que te espinhavas todo por eu querer a rapariga para o meu Clemente!... Mas, olá Sr. Maurício, veja o que faz. Lembre-se de quem ela é filha. É um homem sério e que não gosta de quem o não tratar como homem sério... Mas aí vem o meu Clemente; ele é que me vai dizer da rapariga.