Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 13: XIII Pág. 146 / 519

- Ai, para o Sr. regedor!

- É verdade.

- Então a S. Ex.a tenciona tomar estado?

- E vamos lá saber,- informou-se o doutor - a rapariga é arisca ou acessível?

- Por ora parece-me desconfiada apenas, mas...

- Como disseste que se chama? Berta?

- Sim.

O padre cantarolou:

Berta, Berta, meus amores,

Berta do meu coração,

És a rainha das flores.

Trai lari lari larão.

E, cantando, trepava o muro de um pomar para colher laranjas que de lá o estavam seduzindo.

- Deixa lá as laranjas; anda daí - dizia o mano doutor, que seguia à frente do rancho.

- A casa do cidadão é inviolável - acrescentou Maurício.

- Sim, senhor,- tornou o padre, já a cavalo no muro - mas, se me faz favor, nem isto é casa, nem um homem que mora na aldeia é cidadão.

E saltou do muro com a sua colheita, e pôs-se a caminho, comendo as laranjas que roubara.

- Então dá cá uma- disse o doutor, voltando-se para trás.

- Ah! ah! já cobiças?

E o padre arremessou duas laranjas, que o mano destramente aparou nas mãos.

A companhia foi seguindo pelos acidentados caminhos da aldeia, cantando, saltando, pondo em confusão as lavadeiras moças que ensaboavam nas presas, abraçando à força na estrada as raparigas que, vergadas sob molhos de erva ou de milho cortado, mal lhes podiam fugir; visitando todas as tabernas, fazendo correrias a galinhas, porcos ou vacas, se se lhes deparavam na passagem, calcando campos e escalando muros com o desassombro de senhores.

Maurício imitava-os meio constrangido, mas imitava-os. Se às vezes os seus melhores instintos ou a influência do trato com Jorge o faziam conter, a reflexão maliciosa de qualquer dos primos, que ironicamente lhe celebrava a candura, impelia-o a vencer a primeira hesitação, e afinal dava o passo que lhe repugnara.





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