E, dizendo, dirigiu-se a uma pequena porta que havia no muro da quinta e, sem a menor hesitação, impeliu-a com força e ela cedeu sem grande resistência. O padre entrou primeiro, seguiu-o o mano doutor, e Maurício, ainda que mais a medo, imitou-os.
Os do Cruzeiro caminhavam com a sem-cerimónia que caracterizava todos os seus actos naquela terra, assobiando, cortando flores e frutas, e encurtando caminho por cima de campos semeados.
De repente o padre, que ia adiante, parou e, voltando-se, disse em tom mais baixo:
- E ainda dirão que não sou bom caçador?
E, afastando-se para o lado, deixou-os ver o objecto que ele designava, apontando para a extremidade da rua em que iam entrar.
Era Berta.
A filha de Tomé da Póvoa acabara de ajudar a pôr à cabeça de uma rapariguita aldeã o último feixe de canas de milho que os segadores haviam deixado no campo e ficara seguindo-a com a vista, tão atenta que nem deu pelos recém-chegados.
- Vejam que figura de fada - murmurou Maurício para os primos. - É a Rute da escritura.
- Sim, a figura temos visto, agora quero ver-lhe a cara - disse o padre; e, acompanhado pelo mano bacharel, dirigiu-se para Berta.
Maurício, surpreendido por este passo, que não esperava, seguiu-os para conter-lhes a brutal galantaria.
Berta, ouvindo passos, voltou-se, e, ao reconhecer os três rapazes, não reprimiu um movimento de assustada surpresa, a qual porém se desvaneceu, reparando que Maurício era um deles.
Todos se descobriram, cortejando Berta.
O padre, fitando impertinentemente os olhos nela, principiou:
- Minha senhora, não repare nesta invasão de território. Mas quem teve a culpa foi aqui o primo Maurício. Falou-nos com tal entusiasmo da gentil filha do nosso velho amigo Tomé, que nós tomámos a resolução de vir admirá-la e cumprimentá-la.