Pois não é assim?
Jorge corou ouvindo estas considerações de Tomé, que lhe pareciam dirigidas, olhou para ele com desconfiança e respondeu confusamente:
- Talvez seja; porém...
- Ora então segue-se que o melhor é livrar-se a gente de trabalhos e fugir das ocasiões, para que depois se não diga: «Ai, porque se eu soubesse; ai, porque o que eu devia ter feito...» Entende-me?
- Entendo, Tomé, mas afinal a que quer chegar? - interrompeu Jorge, cada vez mais sobressaltado.
- Ora eu lhe digo. A minha Berta é uma rapariga de juízo.
A confusão de Jorge redobrou. O rosto tingiu-se-lhe de rubor, em que Tomé não reparou.
- É, - prosseguiu o fazendeiro - tenho a certeza disso, mas é rapariga, e enfim teve uma educação bem bonitinha; e Deus me perdoe se fiz mal em lha dar; ora eu, conquanto seja um rústico, sei o valor que têm certas coisas, e que quem se costumar a elas, com elas sonha. Isso é que é verdade! E nem eu me admirava de que a pequena tivesse sua inclinação para rapazes da cidade. Era natural, já digo. Mas aqui não vêm eles, os da terra são assim meios... meios... enfim, rapazes de lavoura, como eu fui; muito bons para as raparigas como era a minha Luísa. Ora agora o que por aí há são, e perdoe-me dizer-lhe isto, uns fidalguinhos que não têm que fazer, e que passam o seu tempo a inquietar as raparigas da terra. Desses é que eu tenho medo! E se quer que lhe fale a verdade, cá em relação à minha pequena, há um sobre todos de que eu muito me receio.
- Quem é? - perguntou Jorge, ainda não senhor de si.
Tomé hesitou por algum tempo, mas afinal, como tomando uma resolução, respondeu:
- É seu irmão Maurício.
- Maurício! - repetiu Jorge, contraindo a fronte. - Pois acaso tem ele dado já motivos para suspeitar?.