Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 175 / 519

É um enxame que ele traz constantemente pousado no coração.

- Ah! ah! pois tu és dos que declinam o amor sempre no plural? Não sabia!

- Deixe-o falar, prima Gabriela. O Jorge bem sabe que nesta mesma ocasião tão absorvido ando por uma só imagem, que é sem fundamento a acusação de inconstante que me dirige.

Jorge contraiu a fronte, ao perceber a alusão, e disse secamente:

- Julguei que havias resolvido deveras ter juízo.

- Não é tempo agora de examinar esta questão, - acudiu Gabriela - porque me parece que vem aí o tio Luís.

De facto o fidalgo aparecia à porta da sala e um pouco atrás dele o padre procurador.

O velho D. Luís vestira-se quase elegantemente para receber a sobrinha. Elegância severa, acomodada à sua grave figura de ancião, mas elegância inquestionável. D. Luís tinha uma presença majestosa e um todo de diplomata que impunha respeito.

O vestuário preto que usava, sobre o qual sobressaía a gravata cuidadosamente lavada e engomada, aumentava o efeito natural dos seus dotes físicos.

O procurador formava inteiro contraste com o fidalgo. Curvado, olhando por cima dos óculos, com o lenço constantemente empunhado para acudir às instantes reclamações de um defluxo crónico, parecia dominado por uma infantil timidez, mas não perdia um só gesto dos outros que manhosamente observava.

A baronesa inclinou-se para beijar a mão do tio, que a acolheu nos braços.

- O tio Luís! - dizia a gentil viúva, olhando-o. - Sempre o mesmo! Não o acho mudado.

- Não?! - disse o fidalgo com leve ironia na intonação e no sorriso.

- Olhe que não. E é natural. Bem vê que se os golpes dolorosos o têm feito padecer, também lhe servem de conforto o sossego destes sítios, a pureza destes ares, a tranquilidade desta vida e o afecto dos filhos que ainda lhe restam.





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