Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 174 / 519

- Não calunies tu a província, dando esse epíteto à tua sinceridade. Nada, nada, o tio que tenha paciência. Conservar em casa um cortesão desta força é quase uma usurpação feita aos direitos da coroa.

- Bem; deixe-me falar-lhe com sinceridade. Como se sente da jornada?

- Hei-de sentir-me cansada, quando tiver satisfeito toda a minha curiosidade, que por enquanto não me deixa sentir coisa alguma. Por exemplo, quais são os teus projectos, os teus cálculos sobre o futuro?

- Ó prima Gabriela, sempre cuidei que só na província se perdia tempo a calcular futuros. Uma pessoa de bom senso não calcula o futuro, que em um momento se transtorna.

- Bem, entendo o subterfúgio. O priminho Maurício ainda não tem planos definidos sobre a sua carreira na vida. Mas é preciso que saibas que vim aqui principalmente por tua causa. Trata-se de te arranjar uma colocação qualquer, um assento nas câmaras, um emprego na alfândega, seja o que for com que tu possas transigir; foi a condição única imposta por teu pai. Por isso vê lá.

- Olhe, prima, já que a sorte me levou à dura impertinência de me ver obrigado a adoptar um modo de vida, não quero tornar a impertinência dupla encarregando-me eu próprio de o escolher. Subscrevo ao acordo a que chegarem; decidam por mim, que, ou me façam general ou tabelião, a tudo me resignarei.

- Desconfio de tanta condescendência. Quer-me parecer que havemos de encontrar dificuldades mais sérias do que as intransigências sonhadas por o tio Luís. Dar-se-á que haja aqui por estes bosques cenas de Romeu e de Julieta?

- Ai, não fale nisso a Maurício, - disse Jorge com um sorriso não de todo despido de ironia - por quem é, prima! É a sua corda sensível, e tem de o aturar por muitas horas!

- Ah! então existe a Julieta?

- As Julietas, as Desdémonas, as Ofélias e todos os tipos imagináveis.





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