Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 186 / 519

- Mas que queres dizer com isso?

- Quero dizer que a porta do Tomé abriu-se sorrateiramente e saiu de lá um patusco... Trai la rai lai lai.

- É impossível! - exclamou Maurício com indignação, compreendendo as malignas alusões do primo.

- Qual impossível? - exclamou o padre. - Não há impossíveis neste mundo. Desengana-te, menino.

- Mas têm a certeza de que se não iludiram?

- Ora se temos. Era um homem em corpo e alma.

- E viram quem era? Conheceram-no?

Os dois irmãos, a esta pergunta, trocaram entre si um olhar e um sorriso de velhacaria.

- Com certeza, não; mas suspeitamos - respondeu o doutor.

- Quem é?

- Alto lá! Nada de ferver em pouca água. Isso fica para segunda observação. Por ora não possuímos ainda a certeza. Porém já mais de uma noite temos encontrado o tal ratão de quem suspeitamos não muito longe do sítio, e já andávamos com a pedra no sapato.

- Ó Chico, olha que o Maurício não está bom. Estes golpes repentinos...

- Qual! Se eu não acredito uma única palavra do que vocês estão para aí a dizer - tornou-lhe Maurício, erguendo-se e passeando na sala agitado.

- Não que a coisa é muito para se não crer, - disse o doutor, principiando a vestir-se - uma rapariga de dezoito anos, que vem do colégio, ter um apaixonado?... Sim, o caso é tão raro!

- Vocês não conhecem Berta.

- Tu, sim, que a conheces. Papalvo de olhinhos fechados, que ainda anda a sonhar por este mundo com princesas encantadas - observou o padre, tirando de entre a roupa da cama um volume de Paulo de Kock com que adormecera na véspera.

- Então lá por que um homem sai de noite de casa do Tomé, já não pode ser senão por amor de Berta. É boa! - insistiu Maurício, contra a sua própria convicção.

- Sim, meu menino, sim; isso tudo e o mais que tu quiseres - respondeu-lhe o padre, apertando outro cigarro.





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