- Eram os mesmos da feira do mês passado, - acudiu o padre - mal fiz eu em não ter quebrado os ossos ao Gaudêncio quando o deixei atordoado na estrada.
- O certo é - prosseguiu o mano doutor - que os homens começaram a fazer-se finos, e eu que vi o Lourenço já a fumegar, previ logo o caldo entornado e fui procurar o marmeleiro que deixara atrás da porta, para o que desse e viesse.
- Não era preciso. Para aquele basto eu só - anotou o padre, sugando com força o cigarro, que teimava em não arder.
- Meu dito, meu feito, - continuou o outro - nós a sairmos e eles connosco. O Lourenço pôs logo dois fora do combate; eu arquei com o terceiro, que me derreou o braço esquerdo, mas a quem escangalhei a cabeça; o último fugiu-nos. Era o João do Pinhão.
O padre interveio:
- Eu, que lhe ando com sede, disse logo para o Chico: «Vamos daqui cortar-lhe o caminho e dar-lhe uma lição.» E tomámos pela quelha do Regedor.
- E viemos sair mesmo defronte da porta do Tomé! Por detrás da presa. Sabes!
- Sei muito bem.
- Ora o homem não apareceu.
- Mas apareceu coisa melhor - acudiu o padre.
- Havia de andar pela meia-noite e nós sem fazer bulha ainda escondidos na sombra. Percebes?
- Mesmo defronte da casa do Tomé - insistiu o padre.
- E depois? - interrogou Maurício impaciente.
- Depois...
A mulher é um catavento,
Que com os ventos varia;
Seu amor dura um momento,
Tolo é quem nelas se fia.
Cantarolou o doutor.
Maurício olhou interrogadoramente para o padre.
- Meu caro priminho, - disse-lhe este - põe as tuas crenças de molho e prepara-te para arrancares um punhado de cabelos; um ou dois.