Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 185 / 519

Aquilo não esteve de todo mau. Bem boas raparigas, e a luz conveniente. Mas, ali pelas onze horas, apareceram uns apaixonados armados de varapaus, e com uns certos modos que principiaram a fazer ferver-me o sangue.

- Eram os mesmos da feira do mês passado, - acudiu o padre - mal fiz eu em não ter quebrado os ossos ao Gaudêncio quando o deixei atordoado na estrada.

- O certo é - prosseguiu o mano doutor - que os homens começaram a fazer-se finos, e eu que vi o Lourenço já a fumegar, previ logo o caldo entornado e fui procurar o marmeleiro que deixara atrás da porta, para o que desse e viesse.

- Não era preciso. Para aquele basto eu só - anotou o padre, sugando com força o cigarro, que teimava em não arder.

- Meu dito, meu feito, - continuou o outro - nós a sairmos e eles connosco. O Lourenço pôs logo dois fora do combate; eu arquei com o terceiro, que me derreou o braço esquerdo, mas a quem escangalhei a cabeça; o último fugiu-nos. Era o João do Pinhão.

O padre interveio:

- Eu, que lhe ando com sede, disse logo para o Chico: «Vamos daqui cortar-lhe o caminho e dar-lhe uma lição.» E tomámos pela quelha do Regedor.

- E viemos sair mesmo defronte da porta do Tomé! Por detrás da presa. Sabes!

- Sei muito bem.

- Ora o homem não apareceu.

- Mas apareceu coisa melhor - acudiu o padre.

- Havia de andar pela meia-noite e nós sem fazer bulha ainda escondidos na sombra. Percebes?

- Mesmo defronte da casa do Tomé - insistiu o padre.

- E depois? - interrogou Maurício impaciente.

- Depois...

A mulher é um catavento,

Que com os ventos varia;

Seu amor dura um momento,

Tolo é quem nelas se fia.

Cantarolou o doutor.

Maurício olhou interrogadoramente para o padre.

- Meu caro priminho, - disse-lhe este - põe as tuas crenças de molho e prepara-te para arrancares um punhado de cabelos; um ou dois.





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