- Ora, mas digam-me: Pois não há tanta gente em casa?
- Pois há, há.
- Então...
- Então tem vossemecê razão - concluiu impertinentemente o padre.
- Muito bem - propôs o doutor. - Para sair de dúvidas queres tu vir connosco bater a mata esta noite para conhecer o coelho?
- Quero, sim.
- Muito me hei-de rir esta noite! - exultou o padre, saltando abaixo da cama.
- Mas prometes não assassinares a pequena na fúria do teu ciúme?
- Não creio verdadeira a vossa suposição, mas se o fosse...
- Que farias? Ora diz lá - perguntou o padre, piscando um olho enquanto esperava a resposta.
- Achava essa mulher tão desprezível que...
- Pumba! Ora aí temos outra. Na verdade não há nada tão desprezível como uma mulher que abre a porta a qualquer pessoa de preferência ao menino Maurício, a jóia dos namorados! - ponderou zombeteiramente o padre.
- Não quero dizer isso, mas...
- Pois, meu menino, prepara-te para o desengano, e volta às priminhas dos Barrocais, que essas são fiéis.
- Ora, mas digam-me vocês uma coisa, - insistia Maurício - quem querem que seja o homem que possa estar já com Berta nesse tom de familiaridade?
- Não entremos nessa questão. A seu tempo cairão as cataratas.
- Já digo, eu não acredito.
- Pois Nosso Senhor te dê sempre essa cómoda incredulidade; antes de casar e depois de casar.
E entre os três ficou pactuada para aquela noite uma espionagem cerrada à casa de Tomé, com o fim de reconhecerem a misteriosa visita.
Maurício passou o dia todo pensativo e preocupado com a revelação que os primos lhe fizeram.
Ainda quando Berta não tivesse adquirido grande preponderância sobre os pensamentos de Maurício, bastaria a ideia de que o outro o preferira no coração de uma mulher, a quem ele havia dedicado um olhar de galanteio, para deveras o irritar.