Maurício ia a transpô-la, mas os primos impediram-no. Daqui originou-se uma pequena altercação, que, ainda que em voz baixa, foi percebida pelos cães, que latiram furiosos.
De uma das janelas da casa partiu uma voz, perguntando:
- Quem está aí?
Era a voz de Berta.
Maurício ia a responder-lhe, cheio de indignação, mas o padre tapou-lhe a boca e obrigou-o a retirar-se.
Esta retirada foi feita com tal perícia que não excitou mais atenção da gente da casa.
Tudo recaiu em sossego.
A presença de Berta foi para Maurício a confirmação das suspeitas dos primos. Por isso mais excitado e impaciente do que até ali, aguardava a saída do misterioso incógnito.
O padre colocou-se em sítio apropriado para poder tolher a passagem ao visitador nocturno.
Perto de hora e meia aguardaram os três. Afinal ouviu-se ruído na porta, e depois de algumas palavras ditas para dentro a meia voz, o homem espiado saiu.
Ouviu-se atrás dele correr a chave na fechadura, cautelosamente.
A vinte passos, pouco mais ou menos, de distância da casa de Tomé, o personagem que tanta curiosidade excitava viu o vulto de três homens imóveis que lhe estorvavam a passagem.
Mais perto deles parou e perguntou-lhes:
- Tenho o caminho livre?
- Apenas depois de satisfeita a simples formalidade de se dar a conhecer - respondeu o padre.
- À ordem de quem?
- De três contra um.
- É direito que não reconheço.
E o indivíduo, desembaraçando um pouco os braços, que levava envolvidos em uma manta, parecia disposto a fazer face a uma dessas agressões que não são raras em algumas das nossas freguesias rurais.
Neste tempo, porém, Maurício, a quem a voz deste homem havia ferido desde as primeiras palavras que lhe ouvira, adiantou-se para ele e, ao vê-lo desembaraçado, exclamou:
- Mas.