Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 191 / 519

- Vocês bem sabem o génio dele.

- Ai sabemos. Pois nós bem sabemos... o génio dele. Ah! Ah!...

E os risos redobravam.

Mas a noite chegara enfim e encerraram-se cada vez mais as sombras sobre os caminhos do campo. Maurício pôde finalmente acompanhar os primos ao lugar da espia.

Dirigiram-se ali por sítios menos frequentados, e sem soltarem uma palavra.

Maurício, a seu pesar, sentia-se dominado por uma comoção profunda. Não era só despeito, era já uma nascente de repugnância pelo acto que praticava. Envergonhava-se daquele furtivo mister de espião.

Chegados ao local, o padre escolheu a posição de maneira que pudessem ver sem serem vistos.

Por muito tempo nada descobriram; nem ouviram mais algum som além do melancólico gemer dos sapos, a distância.

Maurício, entre impaciente e satisfeito pelo resultado nulo da espionagem, principiava a dirigir aos primos alguns ditos epigramáticos, quando a mão do doutor lhe tapou a boca, ao mesmo tempo que o padre se voltava para lhe recomendar silêncio.

Efectivamente, encostado ao muro da Herdade, caminhava um homem, que a sombra da noite não deixava conhecer.

Chegando à porta, que devia estar apenas cerrada, empurrou-a e fechou-a de novo sem fazer ruído.

Maurício quis correr atrás daquele homem. Retiveram-no os primos.

- Espera, pateta! Deixa-o sair, que eu te prometo que havemos de conhecê-lo.

- Que diabo queres tu fazer, maluco? Não vês que espantas a caça?

- Hei-de ver quem ele é!

- Pois sim, mas para isso é preciso prudência.

- A porta ficou aberta. Eu vou...

- Vais aonde? Ora tem juízo. À saída pilhamo-lo.

Maurício, porém, insistiu e os primos condescenderam em passar um cauteloso exame à entrada por onde o vulto desaparecera.

Reprimindo a custo os ímpetos de Maurício, o padre dirigiu a exploração, e mui de mansinho entreabriu a porta e entraram no pátio da casa; perto ficava a escada por onde se subia para as salas.





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