- Tu, sim, que a conheces. Papalvo de olhinhos fechados, que ainda anda a sonhar por este mundo com princesas encantadas - observou o padre, tirando de entre a roupa da cama um volume de Paulo de Kock com que adormecera na véspera.
- Então lá por que um homem sai de noite de casa do Tomé, já não pode ser senão por amor de Berta. É boa! - insistiu Maurício, contra a sua própria convicção.
- Sim, meu menino, sim; isso tudo e o mais que tu quiseres - respondeu-lhe o padre, apertando outro cigarro. - Veremos o que tu pensas, assim que vires o tal homem - tornou o doutor.
- Ora, mas digam-me: Pois não há tanta gente em casa?
- Pois há, há.
- Então...
- Então tem vossemecê razão - concluiu impertinentemente o padre.
- Muito bem - propôs o doutor. - Para sair de dúvidas queres tu vir connosco bater a mata esta noite para conhecer o coelho?
- Quero, sim.
- Muito me hei-de rir esta noite! - exultou o padre, saltando abaixo da cama.
- Mas prometes não assassinares a pequena na fúria do teu ciúme?
- Não creio verdadeira a vossa suposição, mas se o fosse...
- Que farias? Ora diz lá - perguntou o padre, piscando um olho enquanto esperava a resposta.
- Achava essa mulher tão desprezível que...
- Pumba! Ora aí temos outra. Na verdade não há nada tão desprezível como uma mulher que abre a porta a qualquer pessoa de preferência ao menino Maurício, a jóia dos namorados! - ponderou zombeteiramente o padre.
- Não quero dizer isso, mas...
- Pois, meu menino, prepara-te para o desengano, e volta às priminhas dos Barrocais, que essas são fiéis.
- Ora, mas digam-me vocês uma coisa, - insistia Maurício - quem querem que seja o homem que possa estar já com Berta nesse tom de familiaridade?
- Não entremos nessa questão.