Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 16: XVI Pág. 206 / 519

Jorge estranhou-lhe o ar pensativo, mas não o interrogou.

A baronesa, usando dos privilégios de mulher nova e elegante, costumada a não refrear a sua curiosidade feminina, interpelou-o directamente:

- Não voltaste muito amável do teu passeio matinal, Maurício. Que foi isso?

- Perdoe-me, prima. Isto é uma das muitas mudanças de colorido que, sem que se saiba por quê, se opera no humor de uma pessoa.

- Hum! Não andará aí influência do coração?

Maurício soltou um meio riso de descrente, respondendo:

- O coração! O meu coração é modesto. Não aspira a dominar. Nunca lhe conheci essas tendências.

- Nisso mesmo que dizes dele se está a perceber que há espinho lá dentro.

- A prima há-de perdoar-me a franqueza; mas já vejo que tem o defeito do seu sexo, que é não poder imaginar que haja sobre o carácter e a boa ou má disposição de um homem outra influência que não seja a de uma mulher.

- E quando os homens se ocupam tão pouco de coisas graves, como... certos que nós conhecemos, a lei não deixa de ser verdadeira.

- Engana-se; vê? Os homens da minha índole são exactamente aqueles que estão menos sujeitos à influência que diz. Aceitamos a infidelidade e a inconstância feminina como um facto natural e com que já contávamos, porque em nós nunca se desenvolvem aquelas ilusões que levam muitos espíritos a endeusar a mulher. Estamos prevenidos para todas as ocorrências, porque nunca nos esquecemos da fragilidade desse delicados objectos, que amamos só porque são frágeis e delicados. As grandes desilusões e os profundos desesperos são para os que fazem do amor um culto e sonham a mulher de uma essência superior. Persuadem-se de que é de cristal a bola de sabão matizada que os seduz, e portanto ficam muito desconsolados quando ela se lhes desfaz no ar.





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