Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 20: XX Pág. 285 / 519

Luísa ficou compreendendo que os projectos de restauração da Casa Mourisca haviam sido pelo menos adiados, e com isto cresceu nela a admiração pelo carácter de Jorge.

Maria Luísa tinha durante aquela manhã recebido impressões que não se atrevia a revelar totalmente ao marido, mas que a não deixavam estar sossegada enquanto não transpirassem em vagas insinuações.

Estavam à janela os dois esposos, conversando placidamente de Jorge e de D. Luís, e da próxima jornada à cidade, quando Luísa, depois de uma pausa na conversa disse ex abrupto para o marido:

- Ó Tomé, e que dirias tu se um dia a tua filha morasse naquela casa?

E, ao dizer isto, designava com a cabeça a Casa Mourisca.

Tomé olhou para a mulher, como se aquelas palavras lhe fizessem duvidar da firmeza do juízo dela.

- Que queres tu dizer com isso?

- Ora! isto de rapazes e raparigas... quando se vêem a miúdo...

Tomé corou, exclamando com mau modo:

- Tu estás doida, Luísa?

- Ora adeus! Quem sabe lá?

- Ó mulher, não queiras que eu perca a confiança que sempre tive no teu bom juízo.

- Eu não digo... mas enfim...

- Ora adeus, adeus! - atalhou Tomé, quase agastado - há certas coisas que nem a brincar se dizem.

- Pois que mal havia?

- Mau! Ó Luísa, peço-te por favor que te não ponhas com essas graças. Ora para o que te havia de dar!

- Então, porquê?...

- Ora, porque não. Há certas lembranças que até me envergonho de pensar nelas.

Luísa, em vista da repugnância do marido, não ousou insistir. Mas a pobre mulher, com as ambições de mãe, já não podia deixar de olhar a Casa Mourisca e imaginar o efeito que produziria a sua Berta em uma das balaustradas ou das ogivas daquele antigo edifício.





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