em bases sólidas esta propriedade que encontrei vacilante, quando pudesse desafogadamente chamar meu ao mesmo que meus avós chamaram deles, havia então de renovar esta velha habitação, que só então teria o direito de sorrir defronte da sua Herdade, Tomé, e dessas alegres casas que aí se estendem por a colina abaixo. Nesse dia ficaria o povo sabendo que eu tinha cumprido um dever e havia de respeitar-me por força. Mas o Tomé quer privar-me dessa glória. Vai fazer sorrir esse fiel confidente dos nossos infortúnios, quando ainda o sorriso é uma mentira e uma ironia aos seus proprietários. Depois, embora eu lute e obre prodígios, e consiga vencer, o povo dirá: Os fidalgos da Casa Mourisca estão hoje melhor do que já estiveram. Houve um homem, o dono da casa ali defronte, que teve compaixão deles e lhes restaurou por esmola a casa que caía em ruínas. Não falarão nos seus outros valiosos serviços, que não os conhecem, nem apreciam; não falarão daqueles de que me não envergonho, antes me orgulho de confessar. Falarão apenas do único que me humilha, do único que tem efectivamente um carácter de esmola, do menos importante de todos, do que se realizaria com o rendimento da nossa menor tapada, depois de remidos. Agora veja lá, Tomé; se o seu intento é realmente o de humilhar-me, prossiga na sua obra, que eu prometo não a embaraçar com os meios legais que não desconhece; mas se a sua vingança é, como suponho, mais nobre, mais digna de si, se ousa fazer-nos bem apesar do orgulho que lho rejeita, sem lhe importar que um bem seja aparente para que os outros nos vejam humilhados, então deixo ao seu juízo resolver se este é o melhor caminho que tem a seguir.
Tomé da Póvoa ouviu tudo isto com os olhos no chão, apertando o lábio inferior entre o pólex e o índex e balanceando lentamente com o corpo.