Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 21: XXI Pág. 302 / 519

- Chamo por ver que não realiza a sua vingança por essa forma. O Tomé, se pensar a sangue-frio, há-de ser o primeiro a concordar comigo. Ora diga, pois acha que a obra mais difícil de levar a efeito em nossa casa é a limpeza destas ruas e destes tanques? Acha que vale a pena principiar por aqui a exercer as suas actividades? Se um dia, entrando em bom caminho a administração dos nossos bens, nos restituir, como espero, o pleno gozo deles, livre das demandas, dos ónus e da usura que os definham, não lhe parece que os nossos criados farão em dois ou três dias obra correspondente ao valor da sua vingança?

- Lá iremos. Da quinta subirei os degraus e entrarei em casa, que remoçarei do portal até aos telhados.

- E que é tudo isso para o muito que ainda haveria por fazer, e onde os seus auxílios poderiam ser-nos mais vantajosos? Não vale muito mais tudo o que já tem feito. O Tomé bem sabe que o nosso grande mal não está naquelas pedras caídas; isso é apenas o sintoma da doença, que é preciso combater primeiro.

- Pois sim, mas... - titubeou o lavrador, já abalado.

- Sabe o que consegue com isso, Tomé? consegue uma vinganca aparente, que fala mais aos olhos, isso é verdade; mas não a vingança real, generosa e nobre, representada pelo seu empenho em auxiliar-me deveras na obra que empreendi. Consegue contrastar as minhas ambições; sou eu quem mais sofro da sua vingança. Esta casa, como sabe, é apenas uma pequena parte da nossa propriedade, mas é a que, por assim dizer, a representa. O povo, enquanto não vir renovar aquelas ameias caídas, aclarar aquelas paredes negras, restaurar aquela capela abandonada, nunca se persuadirá de que a nossa casa conseguiu escapar do naufrágio em que esteve para perder-se. Quando eu tivesse assentado





Os capítulos deste livro