Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 22: XXII Pág. 311 / 519

- Devia pois fazer por destruí-lo, vendo a maligna natureza que tem - respondeu Berta, sorrindo.

- Não zombe, Berta.

- Não zombo, pois não diz que o arrasta a acções que lhe causam remorsos?

- Mas é por esta incerteza em que estou. Assegure-me porém, Berta, de que o seu coração é ainda o que em outro tempo conheci...

- Sr. Maurício - tornou-lhe Berta, desta vez sem a menor inflexão de gracejo -, seria faltar à amizade que lhe devo se o deixasse continuar. Quero supor que não zomba de mim ao falar dessa maneira; quero convencer-me de que é sincero, ou de que julga sê-lo, pelo menos, nessa declaração que me faz, e vou responder-lhe como se assim fosse. Peço-lhe que faça por esquecer isso que diz sentir por mim e que não pode ter futuro.

- Para me dar esse conselho, para ter direito de dar-mo, é necessário que me faça uma confissão; é necessário que me diga: Eu não posso amá-lo.

- Direi: Eu não posso amá-lo, Sr. Maurício.

- E será sincera no que diz? Veja bem. Interrogue somente o coração. Não a amedrontem as dificuldades e as resistências que possam oferecer-nos. Eu as vencerei, arrostarei eu só com todas.

- Eu disse: eu não posso amá-lo, e não: eu não devo amá-lo, como nesse caso diria.

- E porque não pode? Que há na sua alma contra mim, Berta, que nem as recordações da infância me valem? E contudo eu tinha nesse tempo adquirido direitos à sua afeição.

- Que valor que dá aos brinquedos da infância!

- É porque em mim a juventude do coração principiou cedo. Eu já então sabia amar.

- Mau é que não ache diferença entre o amor de que é capaz agora e o de então; é pois claro que ama como uma criança.

- Com a ingenuidade delas.

- E com a inconstância também.

- Berta, não me fale assim. Nas suas palavras sinto um tom de dúvida que me aflige.





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