Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 22: XXII Pág. 315 / 519

Não tinha já tempo desta vez de visitar a Casa Mourisca. Procurou de novo a porta da quinta por onde entrara, e saiu com saudades daqueles lugares.

No momento em que Berta se afastava, dois caçadores, que desciam um pinhal vizinho, donde se descobria a entrada da Casa Mourisca, viram-na e reconheceram-na.

- Ó Chico, olha lá, aquela não é a Berta do Tomé? - disse um deles para o outro.

- Nem pode ser outra coisa.

- Só! a estas horas... e próximo da Casa Mourisca! Que quer dizer isto?

- É que vem de lá.

- Mas... a casa não está vazia?

- Tanto melhor. Se lá estivesse o velho, a coisa mudava de figura.

- Mas, fala sério, ó Chico, que conjecturas tu de toda esta história?

- Que ou o Maurício ou o Jorge fazem também as suas visitas à capoeira.

- O Maurício foi hoje para a caçada dos Monteiros do Rio-Baixo, e o Jorge, segundo ouvi dizer, está no Porto.

- Quod probandum - redarguiu o outro, recorrendo às suas reminiscências escolásticas; e, como se receasse que o companheiro o não compreendesse, traduziu: - Isso é o que resta provar.

- Foi o mesmo Maurício que o disse.

- E tu a dares muita importância ao que diz o Maurício! Então não sabes que se o Jorge lhe disser que está Papa, o toleirão é capaz de lhe beijar o pé?

- Mas lá em casa, pelos modos, todos o fazem no Porto.

- Pois aí é que está a finura. E se ele, pilhando fora do ninho a raposa velha, se veio ali estabelecer muito à sua vontade?

- Se eu o acreditasse...

- Que farias?

- Era bem feito dar-lhe uma assaltada.

- Já me lembrou isso, mas é melhor outra coisa. Vigiamos isto a ver quando a pequena cá volta, temos o Maurício debaixo de mão e trazemo-lo então connosco. O caso deve ser interessante!

- Apoiado!

- Enquanto a mim, ninguém me tira de que aquele velhaco do Jorge anda a comer-nos a todos com os seus ares de santo.





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