A minha está perdida!
- Seus filhos...
D. Luís estremeceu de irritação a estas palavras.
- Meus filhos! Que me quer dizer deles? Deles me queixo eu. Jorge fez-me corar pela pouca dignidade dos seus sentimentos; Maurício pela vileza dos seus actos.
- Maurício?! Santo Deus! Pois que sucedeu mais?
D. Luís, ainda trémulo de indignação, contou à baronesa a cena da véspera. A cólera do velho contra o filho era violenta e contrastava com a brandura e quase respeito que o dominava ao falar de Berta.
A baronesa ia notando estes fenómenos todos.
Assim que D. Luís concluiu, Gabriela, encolhendo os ombros, formulou a emenda:
- Loucuras de rapaz.
- Loucuras! Loucuras de rapaz! Que diz, Gabriela? Nem tudo se pode permitir ou desculpar ao verdor dos anos. E quando nas acções de um rapaz se nota, já não apenas o estouvamento e a inconsideração que é própria dos anos, mais os sinais de uma profunda depravação moral, esse rapaz, aos vinte anos, tem já a alma corrompida.
- Mas o que vê mais do que estouvamento nos actos de Maurício?
- Que ia ele fazer embriagado, e na companhia de devassos, à Casa Mourisca?
- Saiba então, meu tio, que o primo Maurício tem o fraco de se julgar apaixonado por todas as raparigas bonitas que vê. É o seu defeito. Portanto julga-se também apaixonado por Berta, que me dizem ser gentil. Parece porém que não tem sido feliz por esse lado. Daí os seus desafogos. Depois os planos de Jorge, mal interpretados, e as malévolas instigações daquelas santas criaturas dos nossos primos do Cruzeiro fizeram-lhe já por mais de uma vez ver no irmão inocente um rival preferido, e aí está. Acrescentando a isto a influência do estado anormal em que diz que ele ontem se achava, tudo se explica. Loucuras de uma cabeça estouvada; que por o coração fico eu.