Ao chegar ali, descobriu no muro sobranceiro ao lado menos acessível da colina uma rapariga sentada costurando.
A baronesa adivinhou logo que era Berta e aplaudiu-se do palpite que a fizera desviar do caminho para subir ali.
Berta saudou-a afavelmente, como quem também a reconhecera.
A baronesa dirigiu-se-lhe sem rodeios.
- Não é verdade que é a menina Berta da Póvoa que tenho a felicidade de encontrar aqui?
- Sou, sim, senhora baronesa... porque me parece que estou falando com...
- Justamente. Achamo-nos pois conhecidas. Tanto melhor, para não perdermos tempo com apresentações. Agora permite-me que a abrace, como a uma pessoa a quem estimo?
- Oh! minha senhora!
E as duas mulheres abraçaram-se, saudando-se afectuosamente, como se uma súbita simpatia as aproximasse.
- Sabe - prosseguiu a baronesa, sentando-se ao lado de Berta - que ia procurá-la?
- A mim?!
- É verdade. Veja que feliz acaso o que me fez subir a esta capela, para gozar do panorama que se descobre daqui.
- É um dos passeios mais bonitos destes sítios.
- Pelo que vejo costuma fazer daqui a sua casa de lavor?
- Ai, não; raras vezes; hoje vim para esperar meu pai, que chega do Porto. Daqui avista-se quase meia légua de estrada.Vê?
- Ai, volta hoje o pai? Visto isso também o meu primo Jorge.
- Também... julgo que também.
Berta não foi superior e uma leve turbação, ao ouvir o nome de Jorge e ao responder à baronesa. Quem tem no coração um segredo que de todos quer recatar, trai-o muitas vezes, à força de disfarçá-lo. Em cada olhar suspeita uma espionagem, em cada palavra uma alusão, e, se a conversa se aproxima do assunto, segue-a trémulo, como se segue o caminho que se abeira de um precipício.
A baronesa, que tinha ainda os olhos fitos em Berta com a curiosidade própria de uma mulher ao observar outra que sabe causar impressão nos ânimos masculinos, notou aquele indício de confusão, e não o desprezou.