Como havia eu de arrendá-la, santo Deus! Ele, conhecendo o meu espanto, acudiu logo: «Não lhe pareça isso uma coisa por aí além. Nós ajustamos a renda e você vai tomar conta daquilo. A quinta está bem, educada e nutrida, e estou certo de que não o deixará ficar mal no fim do ano.» «Mas, disse-lhe eu, V. S.a bem vê que uma peça daquelas precisa de braços para ser bem trabalhada, de braços e de certas despesas.» «Mas, homem, torna-me ele, quem lhe diz menos disso? Olhe lá que eu a deixe ao desamparo, para você ma entregar no estado em que por aí em geral os caseiros as entregam aos senhorios. Mas é bem-feito, que eles também fazem uns arrendamentos tais, que os caseiros morreriam esfomeados se não esfomeassem a terra.»
- Mas esse homem era um grande filósofo! - observou Jorge.
- «Vá você para lá, continuou ele, trate-me bem daquilo, e os capitais precisos para instrumentos, gado, adubos, jornaleiros e algumas obras, eu lhos adiantarei. Você é trabalhador, a terra é boa, ia apostar que ambos havemos de lucrar.»
- E o Tomé foi?
- Fui, e foi o princípio da minha felicidade. A terra era abençoada! E, depois, ali nada faltava para a fazer produzir. Creia o Sr. Jorge que o dinheiro também nasce como a semente. O dinheiro, enterrado assim na terra, produz dinheiro, senhor. Eu lá o vi, que quanto mais se gastava com a terra, mais ela produzia. Foi lá que eu aprendi a ser lavrador. Muito devi aos conselhos daquele homem.
«Anda para diante, Tomé, dizia-me ele. Se queres que o cavalo te não deite a terra e te leve a longa jornada, dá-lhe bem de comer; a ração de aveia que lhe furtares da manjedoura é a que mais cara te sai.» Mais tarde, quando eu, com a ajuda de Deus, já ia, além de pagar as minhas dívidas a pouco e pouco, juntando algum pecúlio no canto da caixa, foi ele que me disse: «Não abafes o dinheiro, Tomé.