S.a não viu?» «E você quer-me dar tanta coisa?» Desta vez fui eu que me pus a olhar para ele admirado. «Então não é este o preço ajustado no arrendamento?» «É célebre, disse o Sr. doutor, abanando a cabeça, é o primeiro rendeiro que me paga tão pronto este ano e sem pedir que lhe perdoe alguma coisa, vista a escassez da estação. Onde foi você buscar esse dinheiro, ó Tomé? Você é o mais pobre dos meus caseiros e eu lá vi o estado do seu campo.» Eu não tive outro remédio senão contar-lhe tudo. Ele nem me deixou acabar. «Leve isso daqui, homem, e desempenhe as arrecadas da sua mulher. Eu não sou nenhum vampiro para sugar o sangue do meu próximo.»
- Bela alma! - exclamou Jorge, comovido pela narração.
Tomé continuou:
- «Em todo o caso - disse-me daí a pouco o Sr. doutor - você fez hoje um grande negócio sem o saber. Você é trabalhador, que isso tenho eu visto por a maneira por que me traz bem aproveitado o campito que lhe aluguei. Mas, para tirar partido dos seus bons desejos, faltava-lhe o capital e hoje arranjou-o.»
- Que queria ele dizer nisso?
- Foi o que eu lhe perguntei. «Arranjou-o, sim, senhor, respondeu ele, porque arranjou crédito, que vale por um capital enorme. O que você fez mostra-me o de que é capaz. Apareça amanhã por aqui, porque temos de tratar».
- E que lhe queria ele? - perguntou Jorge, cada vez mais atento.
- No dia seguinte fui procurá-lo, sem imaginar o que fosse que ele tinha para dizer-me. Mal me viu, exclamou logo: «Ora venha cá, Tomé, sente-se aqui, porque temos um contrato a fazer.» E, obrigando-me a sentar ao lado dele, continuou: «Vossemecê vai assinar-me um escrito de arrendamento da minha propriedade das Barrocas.» Ora faça ideia o menino de como eu fiquei, assim que tal ouvi. Conhece a quinta das Barrocas? Aquilo é um condado, se pode dizer.