Viu-o mudar rapidamente de cor, corou primeiro, empalideceu depois.
- Este rapaz - prosseguiu Tomé - é já teu conhecido. É o Clemente, o filho da ti’Ana do Vedor, de quem és amiga. Agora decide lá.
Berta permanecia silenciosa, como se a inesperada notícia lhe tivesse tirado o uso das faculdades, a ponto de não compreender o que ouvira.
Notando o silêncio da filha, Tomé acrescentou:
- O Sr. Jorge foi quem teve a bondade de se encarregar do pedido de Clemente, porque o rapaz não teve coragem para o fazer em pessoa.
Jorge franziu ligeiramente o sobrolho a estas palavras, que não quisera ouvir.
Berta estremeceu e desviou para Jorge um olhar expressivo de profunda amargura, que ele não observou. Voltando-se depois para o pai, perguntou-lhe com a voz trémula e presa pela comoção:
- E que respondeu o pai ao pedido que lhe fez, em nome de Clemente, o Sr. Jorge?
- Eu, filha? - respondeu Tomé. - Pela minha parte disse e digo que não ponho estorvos. Conheço o rapaz, sei as qualidades que ele tem e para genro agrada-me. Mas isso não tira. Tu é que deves dizer se ele te agrada para marido.
Berta baixou, durante alguns momentos, os olhos e não respondeu. Depois ergueu-os e fitou-os em Jorge, como a procurar penetrar-lhe no pensamento; afinal, com voz já mais firme, mas comovida ainda, disse:
- Visto que foi o sr. Jorge que se encarregou dessa proposta, parece-me ter direito a pedir também a sua opinião a respeito dela.
Jorge estremeceu e olhou para Berta de uma maneira que denunciava um íntimo sobressalto.
- A minha opinião? - repetiu ele, sem saber o que dizia,
- Sim, o Sr. Jorge é amigo de meu pai, e julgo que meu amigo também. Não há-de querer ver-me infeliz. Encarregando-se de dar o passo que deu, é decerto porque julga que eu poderei encontrar a felicidade seguindo o caminho que me facilita assim.