Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 30: XXX Pág. 420 / 519

.. são amores impossíveis, diz ela, até lhes chamou loucuras; e espera que os cuidados da família lhe ajudem a esquecê-los. Mas se não esquecer?... Não receio dela, isso não. Aquilo é alma que se não perde nem atraiçoa. Mas se por acaso os tais obstáculos desapareciam e ficasse eu só no lugar deles? Ah! Santa Virgem! era para um homem pôr fim à vida! Porém ao mesmo tempo a rapariga fala com uma segurança como se este caso fosse impossível! Impossível! E porquê? Quem será ele, o tal? Amores que ela trouxe da cidade... Alguém que já a esqueceu e que talvez nunca lhe quisesse deveras. Se eu adivinhasse que era isso, aceitava. Porque enfim aquilo esquecia, e... e eu creio que havíamos de dar-nos bem. Veremos o que pensa minha mãe. Mas que pode ela pensar? Que sabe ela mais do que eu? Aqui o que era preciso era quem me informasse dos tais amores. Se eu procurasse o Sr. Jorge? Ele é tanto lá da casa do Tomé, que talvez... Ele está agora na Casa Mourisca. Pois vou lá.

E, em harmonia com esta resolução, tomou o caminho do antigo solar do fidalgo.

Jorge encerrara-se nos ermos aposentos daquele sombrio palácio, não só para trabalhar, como para procurar alívio aos dolorosos golpes de coração que lhe sangravam ainda.

Fizera-lhe companhia o jardineiro, que não quis ficar nos Bacelos quando soube que Jorge partia. Era a única pessoa que tinha ao seu serviço.

Jorge entregara-se ao trabalho com mais assiduidade e ardor do que nunca. Erguia-se cedo, prolongava por noite alta as suas vigílias; mas se conseguia com estes esforços adiantar o serviço, não obtinha deles a realização do seu principal empenho: acalmar as torturas morais com que viera para aquela solidão.

As poucas horas do sono eram-lhe agitadas por sonhos fatigadores, e sempre uma ideia fixa e amarga lhe ocupava o pensamento, ainda quando mais absorvido pelo estudo.





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