Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 31: XXXI Pág. 434 / 519

Mais vale às vezes não esperar que ele escolha. Oh! se mais vale! Podendo-se decidir a sangue-frio e antes que o coração decida, mais vale.

- O Clemente não pode ser teu marido. Tu, Berta, tu, a quem Deus concedeu qualidades tão distintas, que melhor estarias nessas casas nobres que por aí há do que algumas raparigas atoleimadas que por lá tenho encontrado, tu, que me recordas a minha pobre Beatriz, que pareces ter herdado os modos, os gostos, os sentimentos dela, tu hás-de ir casar com o Clemente! Nem quero ouvir falar mais nisso.

- A sua muita bondade para comigo, padrinho, é que o cega. Pois diga a que posso eu afinal aspirar?

- A que podes aspirar? - exclamou o fidalgo, a quem a exaltação de espírito, que o pedido de Berta produzira, quase fazia esquecer os seus princípios mais radicados - aqui, nesta terra de selvagens, não podes aspirar a mais, porque não há quem te mereça até. Aqui nem sequer por sonhos se sabe o que é delicadeza de sentimentos, nem sequer de longe se apreciam essas nobres qualidades de coração e de espírito de que Deus te dotou, e que tu queres perder na convivência com um homem grosseiro, e que nem pode conhecer o tesouro que deseja possuir.

- Mas, Sr. D. Luís, que outra pode ser a minha sorte? Ora diga.

D. Luís, fazendo um gesto de despeito, respondeu com veemência:

- Pois bem, queres ser mulher de Clemente, não é assim? queres ir sacrificar os teus merecimentos a esse homem? queres dedicar-lhe todo o teu futuro, consagrar todos os teus pensamentos, todas as tuas aptidões aos arranjos de casa da Ana do Vedor? Pois bem, faz a tua vontade. Mas escusas de vir pedir o meu consentimento. Eu não quero ficar com remorsos de ter sancionado um disparate dessa marca. Tu, mulher de Clemente! Vocês, as raparigas, afinal são todas assim; as mais ajuizadas ou tarde ou cedo, caem em uma loucura, como para mostrarem que são mulheres.





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