Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 31: XXXI Pág. 433 / 519

- De quem há-de ser, se sou eu a que peço? - respondeu esta, baixando os seus, e não podendo disfarçar a melancolia que ainda lhe causava aquela ideia.

- Tu?! - exclamou D. Luís sobressaltado, e voltando-se rapidamente. - Tu queres... tu vais casar-te?!

- Sim, Sr. D. Luís, está decidido que isso se faça e eu peço-lhe licença para o fazer.

- Tu casares-te, Berta! - repetia o velho, como se lhe fosse difícil conformar-se com essa ideia - mas… com quem?

- Com o filho de Ana do Vedor, com Clemente.

D. Luís deu um salto na cadeira ao ouvir a resposta e bateu com a mão na banca que tinha diante de si.

- O quê?!... Ora adeus! Tu estás a brincar comigo

- Não, meu padrinho, falo-lhe seriamente.

- Com o Clemente?! Tu casares com o Clemente?

Tu, uma rapariga delicada, de educação, de gosto, de sentimentos elevados, casares-te com um rústico, com um rapaz que quando muito saberá escrever o seu nome! com o filho da Ana, com o Sr. regedor! Isso não tem jeito nenhum. Isso é um disparate de tal ordem!... Quem foi que se lembrou de tal?

- Clemente pediu-me a meu pai...

- E teu pai concedeu? Coisas de Tomé afinal. Mas tu? tu, Berta, tu consentiste?!

- Clemente é um bom rapaz, honrado, amigo do trabalho...

- Ora adeus, amigo do trabalho, honrado, e é isso bastante para que uma rapariga como tu vá sacrificar o seu futuro e ligar a sua existência à de um homem que não pode servir-lhe de boa companhia?!

- E porque não pode, meu padrinho? Ele é bom e delicado, dizem.

- Oh! que grandes delicadezas as de Clemente! Nem tu sabes o que vais fazer, Berta. Pois deveras o coração aprova essa escolha?

- Não Sr. D. Luís, não é que o coração ma peça, porém...

- Então quem te obriga? Por acaso teu pai violenta-te?

- Também não; mas o padrinho sabe que nem sempre o coração é bom conselheiro.





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