- De quem há-de ser, se sou eu a que peço? - respondeu esta, baixando os seus, e não podendo disfarçar a melancolia que ainda lhe causava aquela ideia.
- Tu?! - exclamou D. Luís sobressaltado, e voltando-se rapidamente. - Tu queres... tu vais casar-te?!
- Sim, Sr. D. Luís, está decidido que isso se faça e eu peço-lhe licença para o fazer.
- Tu casares-te, Berta! - repetia o velho, como se lhe fosse difícil conformar-se com essa ideia - mas… com quem?
- Com o filho de Ana do Vedor, com Clemente.
D. Luís deu um salto na cadeira ao ouvir a resposta e bateu com a mão na banca que tinha diante de si.
- O quê?!... Ora adeus! Tu estás a brincar comigo
- Não, meu padrinho, falo-lhe seriamente.
- Com o Clemente?! Tu casares com o Clemente?
Tu, uma rapariga delicada, de educação, de gosto, de sentimentos elevados, casares-te com um rústico, com um rapaz que quando muito saberá escrever o seu nome! com o filho da Ana, com o Sr. regedor! Isso não tem jeito nenhum. Isso é um disparate de tal ordem!... Quem foi que se lembrou de tal?
- Clemente pediu-me a meu pai...
- E teu pai concedeu? Coisas de Tomé afinal. Mas tu? tu, Berta, tu consentiste?!
- Clemente é um bom rapaz, honrado, amigo do trabalho...
- Ora adeus, amigo do trabalho, honrado, e é isso bastante para que uma rapariga como tu vá sacrificar o seu futuro e ligar a sua existência à de um homem que não pode servir-lhe de boa companhia?!
- E porque não pode, meu padrinho? Ele é bom e delicado, dizem.
- Oh! que grandes delicadezas as de Clemente! Nem tu sabes o que vais fazer, Berta. Pois deveras o coração aprova essa escolha?
- Não Sr. D. Luís, não é que o coração ma peça, porém...
- Então quem te obriga? Por acaso teu pai violenta-te?
- Também não; mas o padrinho sabe que nem sempre o coração é bom conselheiro.