Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 31: XXXI Pág. 435 / 519

Para que vens pedir-me conselho, se formaste o propósito de não o escutares? Anda lá, faz a tua vontade, e Deus queira que não te arrependas, quando já não for tempo. Tu não necessitas do meu consentimento, faz o que quiseres.

E D. Luís encostou-se à mesa com gesto e movimentos de amuado.

- Porém, meu padrinho - insistiu Berta, poisando-lhe as mãos no ombro com a doce familiaridade de filha -, não era esse consentimento de má vontade que eu lhe pedia; esse não me trará felicidade, bem vê.

- Queres talvez forçar-me a dizer que aprovo um casamento contra o qual se revolta a consciência? É boa!

- Mas pense bem e talvez que a sua consciência não ache motivos para revoltar-se.

- Sabes que mais? Dizes que amas esse homem, que sentes por ele uma inclinação irresistível, e então entenderei a tua insistência.

- Não digo, porque não diria a verdade.

- Mas então onde está essa necessidade de casamento?

Berta sentiu que devia falar com toda a gravidade ao padrinho para convencê-lo.

- Olhe, Sr. D. Luís - disse ela -, eu vou informá-lo de todo o meu pensamento, e dirá depois se tenho razão. A educação que meu pai me deu não me cegou a ponto de iludir-me a respeito do meu futuro e do destino que me está reservado. O exemplo de minha mãe, que tem sabido em toda a sua vida ser a companheira fiel de um homem de trabalho e tem compreendido que a sua missão era aquela, a de fazer-lhe esquecer em casa os desgostos de fora e dar-lhe forças para continuar a sua tarefa, este exemplo nunca o perdi de vista; entendi sempre que terá de ser esse o meu papel neste mundo, e nem me envergonhei nem me temi nunca dele. Senti em mim forças para aceitá-lo e para cumpri-lo.

- Mas nem só os homens de trabalho material e grosseiro são os que precisam desse conforto da casa e da família.





Os capítulos deste livro