Luís.
- Que vais à vela - concluiu o padre. - Desde que puseram a cabeça à roda a esta gente com liberalismos… ficou tudo transtornado. Agora todos mandam, todos falam, e não há quem governe. Isto de não haver um que governe… Estes patetas não se desenganam de que um país é como uma casa. Ora deixem à vontade os criados em uma cozinha, sem ninguém que os vigie, e verão o que vai! Esperem por o jantar, que hão-de achar-se servidos!
O símile fora sugerido a frei Januário pela sua constante preocupação.
- O que me custa é lembrar-me de que meus filhos têm de viver nesta sociedade assim organizada! Quem sabe a sorte que lhes está reservada, aos pobres rapazes! - disse o fidalgo, suspirando com escuras apreensões sobre a posição precária da família.
- Os filhos de V. Ex.ª não devem transigir em caso algum com estes homens! - exclamou com veemência o padre. É não fazer como a sobrinha de V. Ex.ª, a Sr.ª D. Gabriela, que já é baronesa das feitas por eles. Quando se é fidalgo, é preciso ser fidalgo.
- É bem negro o futuro que espera as casas como a nossa, e sabe Deus se em parte preparado por nós - insistia o fidalgo. - Também pecámos.
- Pois é uma triste verdade, mas isso não é razão para que os que nasceram nessas casas se abaixem diante dos que nem sabem onde nasceram. Deixe V. Ex.ª medrar quanto quiser o Tomé da Herdade, que no fim de tudo sempre há-de mostrar que andou descalço em criança e que foi levar a beber o gado desta casa. Há certas coisas que não dá o dinheiro.
- O Tomé da Herdade! - repetiu D. Luís com amargura. - Esse é que prospera, os tempos estão para ele. Quem viu e quem vê aquilo!
- Então que quer? Inda mais havemos de ver. E então não sabe V. Ex.ª que o homem mandou educar a filha na cidade como se fosse filha de alguém?
- A Berta?
- Sim, a que é afilhada de V.