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Capítulo 4: IV

Página 46
Ex.ª. Com que fim faz aquele toleirão uma coisa dessas? Veja a parlapatice daquele homem. Não repara na posição falsa em que coloca a rapariga. Meteu-se-lhe talvez na cabeça que ainda a casava com algum fidalgo! Pode ser. Veja V. Ex.ª se ela serve para algum dos seus filhos.

D. Luís sorriu, encolhendo os ombros.

- Ora para que precisa a mulher de um lavrador, que é afinal o que ela tem de ser, das prendas e da educação que o pai lhe mandou dar? Não me dirá V. Ex.ª?

- Todos hoje têm aspirações a subir - reflectiu D. Luís com ironia. - A maré sobe.

- Eu bem sei o que é que dá a causa a estas tolerias. Tudo isto vem da barulhada que estes liberalões fizeram na sociedade. Tudo está remexido e ninguém se entende. O sapateiro que nos vem tomar medida de umas botas parece um visconde. Onde isso é bonito, segundo dizem, é em Lisboa. Hoje todos por lá têm excelência.

Nestes cediços comentários sobre o estado do século deixaram-se ficar os dois por muito tempo, desafogando assim a sua má vontade contra as instituições modernas. O padre Januário, porém, não perdia com isto a ideia do jantar, e de quando em quando voltava os olhos para o relógio, cujos lentos ponteiros não correspondiam nunca à impaciência dos seus desejos. Enfim deu a hora e frei Januário ergueu-se instintivamente para ir ver se o jantar estava servido.

Passado pouco tempo tocava a sineta, tão grata aos ouvidos do reverendo. Vibraram pelos desertos aposentos e extensos corredores da Casa Mourisca aqueles sons, que em felizes tempos punham em movimento uma numerosa e esplêndida corte, que os ventos da adversidade tinham dispersado.

D. Luís entrou na sala de jantar, onde com impaciência o aguardava já o capelão.

Aquela grande sala vazia, aquela extensa mesa, apenas servida com quatro talheres, falava tanto do esplendor passado e da decadência presente, que poucos lugares havia na casa que deixassem no fidalgo mais melancólicas impressões.

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pág. 46 (Capítulo 4)

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 46

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515