Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 33: XXXIII Pág. 458 / 519

- Pois se isso é verdade - disse Tomé, medindo a sala a passos largos -, é uma grande desgraça!

- Oh! Aí vem o outro! - respondeu-lhe a Ana do Vedor com o seu ânimo intemerato. - Credo! Parece-me um sino a tocar a defunto. Então que grande desgraça vem a ser essa?

- Nem você pensa o que daí pode resultar, ti’Ana. Mas sempre se lembre de que nessa história entro eu, o fidalgo velho, o rapaz e a minha pequena. Se nos conhece bem a todos, suponha o que daí pode sair de bom.

- Quer você dizer na sua: «Nós os velhos somos dois caturras e os novos são capazes de morrer de paixão.» Mas, se os novos tiverem juízo, não se lhes importa com as caturrices dos velhos, e estes o mais que podem fazer é irem um ano mais cedo para a sepultura, o que é bem feito para não serem teimosos. Olha agora!

- Eu bem o suspeitava - repetia de quando em quando a boa Luísa.

- Nem eu quero pensar nisso para não me arrepender pelo pouco que tenho feito por aquela família - tornava Tomé. - Se o fidalgo soubesse que o filho mais velho se agradara da minha pequena, o que havia de pensar? O que eu no seu lugar pensaria. Que isto em mim fora tudo um cálculo, que procurei trazer o rapaz a minha casa, depois de mandar buscar a filha à cidade, que lha meti à cara, que levei a rapariga para o pé do velho com o fim de o dispor para aprovação dos meus planos... Oh que vergonha! que vergonha! Então é que ele teria razão de me olhar com desconfiança, e quem lha não daria? Mas que cegueira a minha! Cegueira! Mas se eles mal se falavam, se Jorge parecia tão ocupado nos seus negócios que a nada mais dava atenção!

- Ai, eu cá bem o suspeitava - repetiu Luísa.

- Isso não pode ser! Cada vez mais me convenço de que isso é impossível.

- Pois digo-lhe eu que é verdade, como dois e dois serem quatro.





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