- Ó Tomé, escusa de fazer tanto espanto. Eu disse que Berta gosta do fidalgo e que ele gosta da rapariga.
- Tão doida está a ti’Ana como está a minha mulher.
- O seu juízo, Tomé, é que não me parece muito seguro. Olhem o grande milagre que a sua filha goste do rapaz, que não tem por aí outro que se lhe ponha ao pé, e que o rapaz, enfim, que o rapaz também tenha a sua inclinação por a pequena, que não é para enjeitar. Olhem a grande admiração!
- Eu bem pregava a este homem, mas coisa que lhe diga - é o mesmo que nada - observou Luísa.
- Mas quem lhe meteu essas patranhas na cabeça? - perguntou o lavrador com um riso contrafeito, já interiormente inquieto, e tentando resistir à convicção que se lhe estava formando no espírito.
- Ora quem havia de ser? Uma pessoa que me parece que tem a obrigação de estar bem informado? Foi o mesmo Jorge.
- Jorge?! Jorge disse-lhe...
- Agora mesmo o deixei na Corredoura, onde lhe estive falando bem bem um quarto de hora talvez.
- Ti’Ana, eu não quero ofendê-la, mas há coisas tão incríveis! Ora diga-me, não sabe quem me falou na pretensão do seu filho?
- Sei, sei muito bem que foi Jorge, e vai daí? E sei que Berta também disse que sim. Então que mais quer? Mas sei também que o rapaz, quando Clemente lhe falou nisso, ia rompendo com ele; sei que, depois do casamento ajustado, emagreceu e anda como desenterrado; sei que a sua pequena disse aquilo, que eu já contei, ao meu Clemente, e que o rapaz teve as suas suspeitas, e que eu falei claro ao Jorge, que não teve cara para negar. Ora aqui tem.
Tomé da Póvoa ficou assombrado com a revelação. Nunca o lavrador dera importância às suspeitas da mulher, cujos instintos tinham visto melhor do que a razão clara do marido.