- É uma desgraça! mas que remédio? Ainda que eu cuidasse de ver morrer-me a filha, havia de opor-me a esses amores. E mais depressa a recolheria em um convento...
- O que aí vai! o que aí vai! Ó homem de Deus, ia-lhe talvez muito mal se a filha lhe casasse com o rapaz.
- Era uma desgraça, repito. E eu nunca mais poderia olhar de frente para o fidalgo, como o fiz até agora, graças a Deus! porque então teria ele razão de me suspeitar de intriguista.
- Se a consciência o não acusa, não lhe dê canseira o que os outros pensam.
- Eu bem to dizia, Tomé, não que tu não querias crer! - insistiu Luísa, entre pesarosa e satisfeita.
- Já me tarda ver a rapariga para fora dos Bacelos. Mal sabia eu quando a levei para lá que um dia podiam vir a julgar que eu o fizesse por cálculo!
- Deixe estar a rapariga onde está; Deus, que conduziu as coisas assim, lá sabe para que o fez.
- A ti’Ana não sabe o que o fidalgo velho tem sido para comigo? Não sabe que ele mal me pode perdoar o eu ter levantado a casa defronte do seu palácio? e melhorado de ano para ano a minha, ao passo que a dele ia caindo por terra? Não viu o que ele fez só porque soube que o filho tinha vindo ter comigo para o ajudar a livrar-se da usura e das dívidas, que lhe deitavam a perder a casa? E agora então julga que eu hei-de sofrer que ele suspeite sequer que as minhas tenções eram ou são as de engrandecer à custa dos seus a minha família? A ti’Ana sofria isto?
- Mas não se está a ver, como o velho gosta da sua pequena, que nem de ao pé de si a deixa sair? Quem sabe? Às vezes.