..
Luísa suspirou, entrevendo a risonha perspectiva que Ana do Vedor assim em confusas tintas lhe pintara.
- Não sou eu que me iludo com essas coisas, ti’Ana - prosseguiu Tomé. - O meu plano está feito. Hoje mesmo Berta há-de dormir na Herdade. Se o seu Clemente a não quiser, paciência. Nem eu quero obrigá-lo, nem à rapariga, a casar contra vontade. Apesar de tudo confio no juízo de Berta, que há-de ver as coisas como elas são, e por isso não me dá cuidado. Que, se assim não fosse, eu lhe afirmo que a levaria outra vez para Lisboa. O Jorge é também um rapaz honrado. Tudo se há-de remediar ainda, querendo Deus.
- Olhem que homem este! Escusa de tomar essas cautelas todas se o que quer é separá-los. O perigo não está onde pensa. Eles mesmos resolveram esquecerem-se um ao outro e não precisam que você os separe. Olha agora! O perigo está em que Jorge já anda doente, e que provavelmente a rapariga não há-de ficar com muita saúde se ele morre. Veja lá se isso não é bem pior do que o casamento.
- Deus Nosso Senhor nos acuda! - exclamou Luísa assustada.
- Não me fale em casamento, ti’Ana, que até me envergonha essa palavra.
- Pois então não se envergonhe e prepare o enterro de sua filha, que o do rapaz não tardará muito. Olha agora! Este homem parece que não tem coração de pai! Eu não sei que diacho de coração é o dele! Deixe que quando lhe quiser acudir já não há-de ser tempo. Há-de ver a filha morrer-lhe e então é que hão-de ser os arrependimentos.
- E que quer que eu faça, mulher? - exclamou Tomé já exasperado. - O meu dever é este. Deus que determine depois o que for da sua vontade. E julga que se eu pensasse como pensa a ti’Ana, que isso me serviria de alguma coisa? Parece que não conhece o fidalgo! Pois tantos