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- Que pode levar sua filha. A presença dela aqui não adianta os seus projectos. Meus filhos não estão nos Bacelos, como vê, e eu... eu já não tenho o coração sujeito a feitiços.
A ilusão não era possível para Tomé. As palavras de D. Luís confirmavam as previsões que ele tivera antes de lhas ouvir.
O rosto do lavrador tomou a expressão que os fortes golpes e as paixões violentas lhe costumavam dar.
Ficou-se por algum tempo a olhar para o fidalgo sem soltar uma palavra, mordendo os beiços e abanando significativamente com a cabeça. Depois tomou a filha pela mão e, encaminhando-a para a porta do quarto, disse-lhe:
- Berta, vai aprontar as tuas coisas, que eu espero por ti... e no entretanto conversarei com o fidalgo.
Berta sentiu que entre aqueles dois homens havia iminente uma luta de paixões, que não estava já na sua mão dissipar. Mais valia pois deixá-los chegar a uma explicação decisiva, que definisse a posição de cada um.
Obedeceu, portanto, à indicação do pai, dirigindo-lhe apenas em um olhar... uma súplica que não passou despercebida de Tomé.
Depois que Berta saiu, o lavrador voltou para defronte do fidalgo e, cruzando os braços, disse-lhe com um modo decidido:
- Agora que estamos sós, Sr. D. Luís, faça V. Ex.ª o favor de me acusar abertamente e de uma maneira clara e franca.
D. Luís respondeu com frieza e sobranceria:
- Se nas minhas palavras viu coisa que lhe parecesse uma acusação, é porque decerto a consciência lhas interpretou assim.
Tomé da Póvoa não pôde reter um movimento de impaciência.
- Por quem é, fidalgo, não principie V. Ex.ª com esses discursos enredados, com que não me entendo. Jogo franco! Ou se não, começo eu, e será talvez melhor.
D. Luís encolheu os ombros, exprimindo a mais aristocrática indiferença.