Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 36: XXXVI Pág. 487 / 519

O que o mata é a louca presunção de ser superior às paixões, e a tentativa que faz para sacrificá-las a não sei que imaginários deveres.

Jorge sorriu.

- Já vejo que se estabeleceu entre os noivos o comunismo de segredos. Esse soubeste-o só depois de casares.

- Suspeitei-o muito antes, bem o sabes.

- Isso é verdade, suspeitaste-o muito antes de eu próprio me convencer dele.

- Mas - tornou a baronesa - é preciso sair disto. O Jorge supõe-se mais forte do que é.

- Creia, Gabriela, o melhor é deixar ao tempo o cuidado de resolver as crises. Hoje o que me preocupa é a solução dos meus negócios, que felizmente vão tomando uma face animadora.

- É verdade, disseram-me em Lisboa que se decidiu em bem a demanda que tanto te preocupava. O que tu não sabes é que ao valimento de Maurício com um dos desembargadores, em cujas mãos parava o processo, se deve essa pronta resolução.

- Deveras?

- Não ouso crê-lo - disse Maurício -, ainda que é verdade ter-lhe falado e haver recebido dele a promessa de aviar depressa o processo.

- Hoje quase posso assegurar-lhe que é certa a nossa regeneração - tornou Jorge. - Esta primeira vitória prepara-me o ter-reno para outras e solta-me os movimentos que tinha peados. E os teus projectos, Maurício?

- Vão em bom caminho. Tenho quase certo um lugar na embaixada de Londres ou de Berlim.

- Eu ainda não desespero de envelhecer embaixatriz - disse a baronesa, sorrindo, e acrescentou: - Mas que é de Berta? Já cá não está?

- Retirou-se há dias. Desde então recrudesceu a doença do pai.

- E para que se retirou?

- O Tomé veio buscá-la.

- Com que fim?

- Não sei... Ainda que... por algumas coisas que ouvi... quer-me parecer que fizeram conceber a Tomé certos receios. Enfim, eu próprio não quis profundar os motivos da retirada por temer que não me fosse agradável ouvi-los.





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