O que o mata é a louca presunção de ser superior às paixões, e a tentativa que faz para sacrificá-las a não sei que imaginários deveres. 
Jorge sorriu. 
- Já vejo que se estabeleceu entre os noivos o comunismo de segredos. Esse soubeste-o só depois de casares. 
- Suspeitei-o muito antes, bem o sabes. 
- Isso é verdade, suspeitaste-o muito antes de eu próprio me convencer dele. 
- Mas - tornou a baronesa - é preciso sair disto. O Jorge supõe-se mais forte do que é. 
- Creia, Gabriela, o melhor é deixar ao tempo o cuidado de resolver as crises. Hoje o que me preocupa é a solução dos meus negócios, que felizmente vão tomando uma face animadora. 
- É verdade, disseram-me em Lisboa que se decidiu em bem a demanda que tanto te preocupava. O que tu não sabes é que ao valimento de Maurício com um dos desembargadores, em cujas mãos parava o processo, se deve essa pronta resolução. 
- Deveras? 
- Não ouso crê-lo - disse Maurício -, ainda que é verdade ter-lhe falado e haver recebido dele a promessa de aviar depressa o processo. 
- Hoje quase posso assegurar-lhe que é certa a nossa regeneração - tornou Jorge. - Esta primeira vitória prepara-me o ter-reno para outras e solta-me os movimentos que tinha peados. E os teus projectos, Maurício? 
- Vão em bom caminho. Tenho quase certo um lugar na embaixada de Londres ou de Berlim. 
- Eu ainda não desespero de envelhecer embaixatriz - disse a baronesa, sorrindo, e acrescentou: - Mas que é de Berta? Já cá não está? 
- Retirou-se há dias. Desde então recrudesceu a doença do pai. 
- E para que se retirou? 
- O Tomé veio buscá-la. 
- Com que fim? 
- Não sei... Ainda que... por algumas coisas que ouvi... quer-me parecer que fizeram conceber a Tomé certos receios. Enfim, eu próprio não quis profundar os motivos da retirada por temer que não me fosse agradável ouvi-los.