- A Gabriela por certo não sabe a que me refiro.
- Sei, sei, pois não sei! Havia muito que eu tinha descoberto esse segredo de Berta, de Berta e de Jorge.
- E deu-lhe tão pouca importância?
- Apenas a que merece. Mas deveras, foi esse o motivo da retirada de Berta? Parece-me impossível!
- Já não pouco imprudente havia sido a demora dela nesta casa. Eles ambos são fortes, mas não devem abusar das suas forças com risco de agravar o mal e levá-lo a extremos irremediáveis.
- O mal... extremos irremediáveis... Que linguagem tão carregada para uma coisa tão simples! Pois diga-me, considera um grande mal o facto de eles gostarem um do outro?
D. Luís encarou Gabriela, deveras admirado da pergunta.
- Está a zombar, Gabriela?
- Não estou. Falo-lhe com toda a minha seriedade. Sabe quando eu receio mal da inclinação recíproca de duas pessoas? É quando nos caracteres delas há tais contradições que o futuro promete ser uma continuada luta. Agora todas as mais desigualdades, desigualdades de riquezas, de posição social e de jerarquia, são facilmente niveladas por um amor verdadeiro e sério. E esta é de certo a índole do amor deles.
- Visto isso, achava a Gabriela muito natural que meu filho casasse com a filha de Tomé da Póvoa?
A pergunta era feita com certa acrimónia, que não passou despercebida da baronesa. Ela porém estava resolvida a atacar de frente os preconceitos do tio e não titubeou ao responder-lhe:
- Se quer que lhe diga, achava até muito conveniente.
D. Luís moveu com certa impaciência a cabeça. Gabriela insistiu: - Queria antes que eu votasse pela continuação deste estado de coisas, que o há-de matar, que infalivelmente o mata, porque - diga o tio o que disser - a companhia de Berta é-lhe já tão