Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 36: XXXVI Pág. 491 / 519

- A Gabriela por certo não sabe a que me refiro.

- Sei, sei, pois não sei! Havia muito que eu tinha descoberto esse segredo de Berta, de Berta e de Jorge.

- E deu-lhe tão pouca importância?

- Apenas a que merece. Mas deveras, foi esse o motivo da retirada de Berta? Parece-me impossível!

- Já não pouco imprudente havia sido a demora dela nesta casa. Eles ambos são fortes, mas não devem abusar das suas forças com risco de agravar o mal e levá-lo a extremos irremediáveis.

- O mal... extremos irremediáveis... Que linguagem tão carregada para uma coisa tão simples! Pois diga-me, considera um grande mal o facto de eles gostarem um do outro?

D. Luís encarou Gabriela, deveras admirado da pergunta.

- Está a zombar, Gabriela?

- Não estou. Falo-lhe com toda a minha seriedade. Sabe quando eu receio mal da inclinação recíproca de duas pessoas? É quando nos caracteres delas há tais contradições que o futuro promete ser uma continuada luta. Agora todas as mais desigualdades, desigualdades de riquezas, de posição social e de jerarquia, são facilmente niveladas por um amor verdadeiro e sério. E esta é de certo a índole do amor deles.

- Visto isso, achava a Gabriela muito natural que meu filho casasse com a filha de Tomé da Póvoa?

A pergunta era feita com certa acrimónia, que não passou despercebida da baronesa. Ela porém estava resolvida a atacar de frente os preconceitos do tio e não titubeou ao responder-lhe:

- Se quer que lhe diga, achava até muito conveniente.

D. Luís moveu com certa impaciência a cabeça. Gabriela insistiu: - Queria antes que eu votasse pela continuação deste estado de coisas, que o há-de matar, que infalivelmente o mata, porque - diga o tio o que disser - a companhia de Berta é-lhe já tão





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