Maurício encarregou-se da mensagem que lhe incumbia a mulher, e partiu para casa de Tomé, onde foi recebido com caloroso afecto.
Expondo o principal fim da sua visita, não encontrou grande oposição em Tomé contra o regresso da filha para os Bacelos. Ele próprio prometeu levá-la.
Efectivamente, horas depois, Berta era de novo conduzida pela baronesa para junto da cabeceira do enfermo, que em todo aquele tempo continuara a manifestar sinais da mais profunda depressão de forças.
D. Luís dormitava quando Berta se lhe aproximou do leito. A rapariga correu cautelosamente o cortinado para contemplar a figura do ancião. Comoveu-a o aspecto de abatimento que crescera nele desde que Berta o deixara. D. Luís tinha o sono agitado por sonhos febricitantes e, sonhando, soltava gemidos surdos, palavras mal articuladas, estremecia e suava como sob a influência de uma aflitiva impressão.
Berta veio encontrá-lo em um destes estados e curvou-se, compadecida, para enxugar o suor que lhe orvalhava a fronte.
O doente acordou então e fitou os olhos nela.
Imediatamente lhe distendeu as feições contraídas um sorriso de alegria. Por algum tempo não falou, como se estivesse duvidando da realidade do que via e suspeitando-a de ser a continuação de um sonho.
Foi Berta a primeira que falou.
- Está melhor? - interrogara ela, sorrindo.
O tom daquela voz e a particular inflexão da pergunta, com que já estavam familiarizados os ouvidos do doente, parece que o convenceram de que não dormia. Estendendo para a afilhada a mão magra e ardente, murmurou, profundamente comovido:
- Então sempre voltaste?
- Como me disseram que tinha passado mais inquieto estes últimos dias...
- Fizeste bem. Havia de custar-me a morrer sem me despedir de ti.