Meu pai não o aceita, e prefere ver-nos felizes. Ajoelha ao lado dele e beija a mão de teu pai.
Berta obedeceu, banhada em lágrimas de comoção.
A baronesa não reprimiu uma exclamação de alegria e de triunfo.
Maurício correu a abraçar Jorge.
A Ana do Vedor quase levantou ao ar a boa Luísa, que temia acreditar no que julgara entender nas palavras de Jorge.
Somente Tomé da Póvoa ficou imóvel e calado. Ao ouvir Jorge, ao ver a filha ajoelhada junto do fidalgo e acariciada por ele, um clarão de alegria passou no rosto do honrado lavrador e brilharam-lhe nos olhos as lágrimas. Mas este relâmpago dissipou-se cedo e carregou-se-lhe o semblante de tristeza.
Assim que Jorge, procurando-o com os olhos, se dirigiu para ele, estendendo-lhe os braços, Tomé afastou-o brandamente de si, dizendo-lhe:
- Custa-me desfazer essa alegria, senhor, essa alegria que me faz quase chorar, que é sincera da sua parte. Mas quanto mais cedo, melhor será. Isto não pode ser.
Todos fitaram estupefactos o fazendeiro. Ninguém esperava que a resistência se levantasse dali. Ana do Vedor resmungou:
- Temo-la travada!
- Valha-nos Deus! - gemeu Luísa.
Berta fitou no pai os olhos ainda lacrimosos.
A fronte de D. Luís contraiu-se de novo.
- Que quer dizer com essas palavras, Tomé? - perguntou Jorge, enquanto que Maurício e a baronesa secundaram a pergunta com um olhar interrogador.
- Há brios a que se não pode faltar insistiu Tomé -, ainda quando se nos despedace o coração e o dos filhos. Que se diria de mim? Como se explicaria por aí o meu proceder nesta casa? Que pensaria ali o Sr. D. Luís, que já uma vez me suspeitou de forjar intrigas infames e de ter ambições indignas de um homem de bem? Creia no que lhe digo, Sr. Jorge, mais vale que sacrifiquemos todos um pouco das nossas afeições para não termos desgostos maiores.