Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 37: XXXVII Pág. 511 / 519

- Que desgostos pode recear, Tomé, quando eu lhe peço que me conceda a mão de Berta?

- O Sr. Jorge fala cego pela afeição que sente, e é ela que não o deixa ver o que eu vejo.

- Não seja obstinado, Tomé - disse a baronesa. - Bem vê que donde era mais de esperar a resistência, já ela caiu.

- V. Ex.ª não falaria assim se soubesse tudo. Há dias, Sr.ª baronesa, nesta mesma sala, vendo-me ofendido no meu carácter, suspeitado de tenções que nunca tive, e desesperado por não poder justificar-me, porque de facto tudo se levantava contra mim, fiz um protesto que não posso deixar de cumprir. Se lhe faltasse, eu próprio daria razão a quem me chamasse, frente a frente, intriguista, falso, miserável...

D. Luís atalhou, dizendo:

- Protestou o Tomé da Póvoa que, se o casamento de sua filha com Jorge dependesse do seu consentimento, ele o recusaria, ainda mesmo quando da recusa se seguisse a morte para ambos; e que para o não recusar seria necessário que eu, o pai de Jorge, o senhor da Casa Mourisca, o único, segundo o pensar do mundo, de quem deveria partir a oposição a essa aliança, pedisse a ele, Tomé da Póvoa, como favor, esse consentimento.

Tomé fez um sinal afirmativo, olhando para a baronesa, para Maurício e para Jorge como perguntando-lhes se a tal solene protesto era possível faltar.

- Pois bem - continuou o fidalgo, depois de uma curta pausa, e fechando os olhos, à imitação de quem se prepara a vencer um precipício, cuja vista o faz recuar. - Pois bem, sou eu quem peço a Tomé da Póvoa... como favor... que permita que Berta seja a esposa de meu filho.

E ao acabar de dizer estas palavras tingiram-se-lhe as faces de uma vermelhidão intensa.

Tomé fixou os olhos no rosto do fidalgo e leu naqueles sinais a revelação do esforço gigante que ele fizera para conseguir pronunciar tão nobres e generosas palavras.





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