exaltavam-se as virtudes do seu carácter varonil, e a pouco e pouco o espírito da lenda tomou posse desta individualidade e deu-lhe o prestigioso colorido que assegura a imortalidade na tradição popular.
Restaurada a Casa Mourisca e satisfeita a dívida do Tomé, D. Luís a quem os assíduos cuidados de Berta tinham feito vencer a moléstia que o prostrara, voltou ao seu solar com solenidade correspondente àquela com que o deixara. Os instintos dramáticos do seu carácter de fidalgo assim o exigiam.
Ao regressar à casa, que outra vez podia chamar sua, e encontrando-a sob o aspecto de vida e festa havia tanto tempo perdido, D. Luís comoveu-se profundamente.
A numerosa coorte de criados e jornaleiros que vieram recebê-lo à porta e saudá-lo com entusiasmo fez-lhe recordar tempos passados e as tradições feudais de épocas volvidas, saudosos sempre para seu coração.
Dias depois celebrava-se na capela da casa o casamento de Jorge e de Berta, com mais alegria do que pompa, com mais gala de sentimento do que de festa.
A baronesa e Maurício vieram à aldeia para assistirem à solenidade e demoraram-se ainda algumas semanas nela.
A boa Luísa desfazia-se em lágrimas de júbilo. Tomé da Póvoa a custo podia reprimir o contentamento que lhe transbordava do coração. Os esforços de Gabriela haviam conseguido que o contrato do casamento se redigisse de modo que o pai e o noivo, fazendo cada um de seu lado meias concessões, não ficassem humilhados por ele.
A fidalguia da província torceu o nariz à aliança, e absteve-se de tomar conhecimento do facto, que também lhe não foi participado.
Com a tácita censura dessa parentela aumentou a irritação e despeito de D. Luís, e, impelido a reagir, deu mais um passo no terreno dos princípios democráticos.