Jorge, que percebeu em todos estes sinais um dos costumados frenesis do irmão, interrogou-o:
- Que é isso, Maurício? Que é que tens? Que te sucedeu lá fora?
- Deixa-me, Jorge - respondeu Maurício, levantando-se outra vez e pondo-se a passear no quarto. - Se soubesses como eu venho sufocado de raiva!
- Contra quem?
- Contra esta canalha desta gente do campo. Uns miseráveis insolentes que lançam a lama suja onde nasceram e vivem à face da gente com o mais intolerável arrojo! Mas eu esmago-os com a sola da bota!
- Bom! temos bravatas de fidalguia! Esses arreganhos de senhor feudal hoje são de mau gosto, Maurício. Olha que já passou o tempo deles.
- É sempre tempo de castigar um insolente. O essencial é que se tenha sangue nas veias e pundonor no coração.
- E sangue também no coração - emendou Jorge, sorrindo. - Olha que também é lá preciso.
- Não rias, Jorge! Por quem és! - tornou o irmão, despeitado. - Bem vês que falo seriamente.
- Então conta-me tudo. Receio que haja aí alguma das tuas exagerações.
- Não exagero. Esta manhã fui caçar, como sabes. Corri o monte com pouca felicidade; os cães pareciam ter perdido o faro. Voltava já para casa sem esperança, quando, ali pela Quebrada do Moinho, levantaram-se-me quatro codornizes; atiro-lhes, mas mal as feri. Elas seguem na direcção das azenhas, atrevessaram os campos que estão em baixo e vão pousar no pinhal que fica para lá da presa do Queimado. Sabes? Eu desço com os cães, e, para não dar a volta do portelo, galguei o murito da fazenda do Luís da Azinhaga e ia para atravessar o campo, quando aquele grosseirão do mato, aquele vilão infame, sai da casa da eira, aonde andava com os criados, e berra-me: «Olá, ó fidalguinho, isto aqui não é terra baldia, nem roupa de franceses.