Ex.ª nos quiser ouvir, meu pai, desejávamos falar-lhe.
- Falar-me?! - repetiu D. Luís, em tom de espanto e quase irritado.
- Sim, senhor.
- É singular! E a propósito de quê?
- Do nosso futuro.
- Ah! - exclamou o fidalgo, procurando encobrir em ironia a sua crescente irritação. - Deu-lhes para pensar nele agora pelo luar.
- Penso nele há muitos dias, meu pai. Há muitos dias que ele me inquieta.
D. Luís fez um movimento, que imediatamente reprimiu, e passou a interrogar Maurício, no mesmo tom de afectada ironia:
- Também te atacaram as mesmas inquietações pelo futuro?
- Há menos tempo, mas com maior fundamento talvez - respondeu-lhe com firmeza o filho interrogado.
D. Luís calou-se por alguns instantes, depois tornou para Jorge:
- Então vejamos a causa dos teus receios, saibamos o que te trouxe aqui.
E principiou a tocar nervosamente com os dedos nos braços da cadeira.
- Meu pai - principiou Jorge - , perdoe-me a liberdade que tomo de falar nisto a V. Ex.ª; mas é o empenho que faço em que o nome e o crédito da nossa família se conservem sem mancha... que...
O fidalgo interrompeu-o batendo com violência no peitoril da janela.
- E quem o manchou? - rugiu ele, quase meio erguido, e fitando o filho com um olhar cujo fulgor até à claridade tíbia da Lua se percebia.
- Até hoje ninguém; manchá-lo-ei eu talvez, amanhã, quando não puder satisfazer os compromissos da nossa casa; manchá-lo-ei quando me bater à porta a miséria e me encontrar com hábitos de ociosidade e sem a ciência do trabalho - respondeu placidamente Jorge à violenta interpelação do pai.
- Então já sabes que te baterá à porta a miséria? - inquiriu o fidalgo amargamente.
Desta vez foi Maurício quem respondeu:
- Há quem se encarregue de no-lo ensinar.