Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 6: VI Pág. 63 / 519

Ex.ª nos quiser ouvir, meu pai, desejávamos falar-lhe.

- Falar-me?! - repetiu D. Luís, em tom de espanto e quase irritado.

- Sim, senhor.

- É singular! E a propósito de quê?

- Do nosso futuro.

- Ah! - exclamou o fidalgo, procurando encobrir em ironia a sua crescente irritação. - Deu-lhes para pensar nele agora pelo luar.

- Penso nele há muitos dias, meu pai. Há muitos dias que ele me inquieta.

D. Luís fez um movimento, que imediatamente reprimiu, e passou a interrogar Maurício, no mesmo tom de afectada ironia:

- Também te atacaram as mesmas inquietações pelo futuro?

- Há menos tempo, mas com maior fundamento talvez - respondeu-lhe com firmeza o filho interrogado.

D. Luís calou-se por alguns instantes, depois tornou para Jorge:

- Então vejamos a causa dos teus receios, saibamos o que te trouxe aqui.

E principiou a tocar nervosamente com os dedos nos braços da cadeira.

- Meu pai - principiou Jorge - , perdoe-me a liberdade que tomo de falar nisto a V. Ex.ª; mas é o empenho que faço em que o nome e o crédito da nossa família se conservem sem mancha... que...

O fidalgo interrompeu-o batendo com violência no peitoril da janela.

- E quem o manchou? - rugiu ele, quase meio erguido, e fitando o filho com um olhar cujo fulgor até à claridade tíbia da Lua se percebia.

- Até hoje ninguém; manchá-lo-ei eu talvez, amanhã, quando não puder satisfazer os compromissos da nossa casa; manchá-lo-ei quando me bater à porta a miséria e me encontrar com hábitos de ociosidade e sem a ciência do trabalho - respondeu placidamente Jorge à violenta interpelação do pai.

- Então já sabes que te baterá à porta a miséria? - inquiriu o fidalgo amargamente.

Desta vez foi Maurício quem respondeu:

- Há quem se encarregue de no-lo ensinar.





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