Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 7: VII Pág. 76 / 519

- Não se meta o Sr. padre comigo, se não quer ouvir. Olhe que eu fui soldado, e não é um frade que me leva a melhor. A vontade que eles nos têm sei eu, que ainda me lembra de ver arder por os quatros cantos o convento de S. Francisco, na noite de 24 para 25 de Julho, e por pouco que não morriam queimados todos os meus camaradas de Caçadores 5. Hem? Que diz vossemecê àquela caridade?

- Você não se quer calar? Eu direi ao Sr. D. Luís as conversas que você tem aqui na cozinha e a maneira por que fala da religião e da igreja.

- Quem falou em tal? Eu em quem falo é nos frades, que é coisa diferente.

A desavença terminou com a súbita saída do padre, que perdia as estribeiras nestas lutas. A criadagem ficou rindo dele pelas costas, e o hortelão passou a contar por miúdo como tinha sido o caso do incêndio do convento dos Franciscanos.

O padre, na presença do fidalgo, encetou a sua milionésima queixa contra o jardineiro e acabou por dar o milionésimo conselho da sua imediata demissão. O fidalgo ouviu-o pela milionésima vez com o silêncio do costume.

Daí a momentos estava o procurador aplacado…, porque ceava.

À ceia assistia o fidalgo e os seus dois filhos.

Ninguém falou durante a refeição nocturna. O padre estava amuado, D. Luís pensativo, Jorge e Maurício trocando olhares de inteligência sobre o aspecto carrancudo do padre.

Ao erguer-se da mesa, D. Luís disse para o filho mais velho:

- O Sr. frei Januário já está informado do que hoje se combinou. Amanhã ele que tenha a bondade de te dar os conselhos precisos.

E depois de uma seca «boa noite», D. Luís saiu da sala.

Os filhos levantaram-se para também se retirarem.

Jorge interrogou o padre:

- A que horas quer que o procure amanhã, Sr. frei Januário?

- A que horas?… Ah!… sim… isso… eu sei?… A coisa não é de pressa… Se não for amanhã…

- Há-de ser amanhã - atalhou Jorge.





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