Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: VII

Página 75
e, mais atento do que nenhum, o cozinheiro que, sentado em um banco baixo, com uma perna atravessada sobre a outra e as mãos a segurarem o joelho, nem ouvia o chiar das caçarolas, nem se lembrava da ceia.

O padre fumou com a descoberta.

O hortelão dizia:

- Foi então que o imperador… oh aquilo é que era um homem!… foi então que ele fez aquela fala que lá está toda na memória do Mindelo, que foi onde nós desembarcámos, no dia 8 de Julho de 1832, ali pela tardinha.

E o hortelão, tomando uns ares solenes e endireitando o corpo, começou recitando oratoriamente:

- «Soldados! Aquelas praias são as do malfadado Portugal; ali, vossos pais, mães, filhos, esposas, parentes e amigos suspiram pela vossa vida e confiam…»

Era demais para a magnanimidade de frei Januário. A proclamação de D. Pedro desafinava-lhe os nervos sempre que a ouvia; o que não era poucas vezes, graças ao entusiasmo do hortelão. Cedendo pois ao seu ânimo indignado, o padre rompeu pela cozinha dentro, exclamando:

- Então que pouca-vergonha é esta? O fidalgo à espera da ceia, e esta súcia de mandriões aqui postos a ouvir as patranhas daquele senhor!

Os criados, surpreendidos, ergueram-se em alvoroço e tomaram os seus postos. O hortelão reagiu, como era seu costume.

- Patranhas? Isso lá mais devagar. Isto vi e ouvi eu, como vejo e ouço a vossemecê, e muito me honro em dizê-lo. Patranhas! Quem quiser pode ler tudo isso nas gazetas e muitas coisas mais. Eu fui soldado do imperador e…

- Está bom, está bom; pouco falatório. Você o que é, é hortelão; e o lugar dos hortelões não é na cozinha.

- Lá se vamos a isso, também o do capelão não é ao pé das panelas, e contudo vossemecê pode dizer-se que não tem outro posto onde esteja mais firme.

- Tenha cuidado com a língua; olhe que um dia a paciência esgota-se e depois não se queixe.

<< Página Anterior

pág. 75 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 75

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515